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Caminhoneiro de Morro Reuter é feito refém em assalto no Rio de Janeiro
Por Cleiton Zimer
Morro Reuter / Rio de Janeiro – Na tarde de quarta-feira, 15, enquanto se deslocava com uma carga de queijo parmesão para ser entregue em Teresópolis, um caminhoneiro de Morro Reuter, Vanderlei Luis Perius, 42 anos, foi assaltado por uma quadrilha armada no Arco Metropolitano, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.
O motorista ficou como refém por cerca de duas horas e meia, estando na mira de bandidos armados com pistolas e depois foi liberado só com a roupa do corpo. A carga foi toda roubada e, o caminhão, foi localizado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) na sexta-feira, 17, sem as rodas e vários itens subtraídos.
O motorista ainda está no Rio de Janeiro devido aos trâmites burocráticos para conseguir liberar o veículo junto à polícia local. Na noite de domingo, 19, ele conversou com a reportagem e relatou o ocorrido. O trabalhador está bem e restam os danos materiais que, somente contabilizando o valor da carga superam os R$ 300 mil, sem levar em conta os prejuízos do veículo avariado e os pertences roubados.
Um veículo “fechou” a frente obrigando-o a parar
De acordo com Vanderlei eram por volta de 15h, estava chovendo, e seguia sentido Teresópolis pela BR-040 através do Arco Metropolitano. Quando estava em Duque de Caxias na altura do bairro Jardim Gramacho teve a frente fechada por uma Fiat Torro, obrigando-o a frear e parar. Imediatamente um Astra prata encostou ao lado e, dentro dele, quatro indivíduos apontaram pistolas em sua direção.
Dois ladrões desceram e o obrigaram a abrir o vidro. Um deles entrou pela janela com o aparelho que bloqueia o sinal do rastreamento e sentou-se ao lado do motorista, orientando-o a seguir o carro da frente. Em nenhum momento o elemento abriu a porta pois, se assim o fizesse, o caminhão seria bloqueado ali mesmo – e ele sabia disso.
Eles seguiram por aproximadamente 10 quilômetros até um lixão do Gramacho, em uma favela, local conhecido como Cohab. Durante o percurso era ameaçado constantemente, inclusive de morte.
Queijo foi baldeado para caçambas de entulhos
Chegando no aterro um sujeito se apresentando com o chefe do bando se mostrou mais amigável. “Com ele foi mais tranquilo. Me colocou num canto, foi até ‘gente boa’, comigo. Me deu uma água para eu me acalmar e quando descarregaram o caminhão mandou um outro rapaz me colocar num ônibus, me levaram até a saída da favela e mandaram eu vazar”, relatou a vítima.
Vanderlei lembra que a mercadoria foi baldeada para caçambas de entulhos e que um caminhou veio, engatou e levou embora.
Saiu dali por volta das 17h30. Lhe devolveram o seu celular, mas, do restante, só saiu com a roupa do corpo, pegaram até mesmo seu calçado. A carteira com documentos que estava no bolso não chegaram a pegar, mas o dinheiro que havia no console do caminhão foi todo roubado.
O motorista do ônibus, ao tomar conhecimento do assalto, falou que deixaria Vanderlei em um lugar seguro. Deixou-o em frente ao Caxias Shopping. De lá, a vítima fez contato com a empresa de Dois Irmãos – à qual o caminhão pertence – e com alguns conhecidos que tem no Rio de Janeiro, colegas de estrada, inclusive. “Depois que me liberaram recebi apoio total, da empresa, e dos amigos. Me ofereceram casa, mandaram dinheiro e compraram passagem para voltar”.
“Perdi todos os meus pertences”
O retorno estava previsto para sexta-feira passada, mas, como a PRF localizou o caminhão, o voo foi cancelado. O veículo foi localizado no mesmo local onde o motorista tinha deixado ele, porém, sem as rodas e vários outros itens furtados. “Na verdade, perdi todos os meus pertences. Como trabalhamos na estrada a nossa casa é no caminhão, perdi roupas, tudo. Para ter uma ideia me deixaram de pé descalço, só com a roupa do corpo. Prejuízo é enorme. Empresa tem seguro, mas, mesmo assim, sempre tem prejuízo com isso”. A carga de queijo que o motorista transportava é avaliada em R$ 320 mil.
Desde o momento do ocorrido a vítima está na casa de um amigo caminhoneiro que, imediatamente, prestou apoio, até para registrar a ocorrência. Hoje Vanderlei vai novamente na polícia para concluir os trâmites de forma que, assim, o caminhão possa ser liberado para a empresa seguradora.
Segunda vez que é assaltado no Rio
Está não foi a primeira vez que Vanderlei foi assaltado nos seus 13 anos como motorista de caminhão, através do que já percorreu diversas regiões. Na vez anterior também aconteceu em Duque de Caxias, quando foi assaltando em plena luz do dia descarregando em frente a um mercado. “Aqui no Rio de Janeiro não tem hora, não tem dia, não tem nada. Não pensa que pegam só de noite, para eles é de manhã, de tarde, de noite, de madrugada. É complicado”, lamentou.
O perigo do Arco
O assalto de quarta-feira no Arco Metropolitano é uma preocupação constante na vida de caminhoneiros. A via é utilizada de maneira a encurtar o trajeto e não ter que enfrentar o trânsito caótico e restrições, mas, infelizmente, o roubo de cargas no trecho é frequente e é sinônimo de medo e insegurança para os trabalhadores que utilizam a via.
“Este Arco Metropolitano sempre foi perigoso. Mas às vezes o cara não tem escolha, dependendo a região que vai, não tem o que fazer. Ali é um pedaço que não tem nada, é deserto, não tem policiamento”, explica o caminhoneiro, lamentando que “só trabalhamos para sobreviver e pegar impostos e acontece isso”.
Uma quadrilha poderosa
Pelo formato de agir dos criminosos é notório que a quadrilha que assaltou o caminhoneiro é poderosa e especialista no que faz. A experiência neste tipo de crime é vista desde o início, quando o bandido entra pela janela do caminhão, não abrindo a porta, de maneira a evitar que ele bloqueie.
A estrutura criminosa também é avalizada diante da forma como o transbordo aconteceu, sendo baldeada em caçambas de entulho e imediatamente rebocadas por um caminhão – para não levantar suspeitas. A quantidade de ladrões envolvidos também reforça a conjuntura da quadrilha que deixa evidente que o objetivo não é roubar os veículos mas, sim, subtrair as cargas de valor.