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ANIVERSÁRIO DE PICADA CAFÉ: Do mimeógrafo às lives – professor Adilo viveu as transformações da sala de aula
Há mais de 50 anos lecionando, ele viu todas as mudanças que a Educação passou no último meio século
As crianças talvez nem saibam o que era aquele aparelho, de metal, às vezes amarelo, e que exalava um cheiro de álcool que infestava toda a sala de aula quando os professores precisavam fazer cópias nos anos 70 e 80 (e até dos anos 90). Aos 69 anos, o professor Adilo Metz recorda que quando teve seus primeiros alunos, no interior de Nova Petrópolis, essa tecnologia que atualmente está ultrapassada sequer existia. “Na escola não tinha mimeógrafo ainda, veio só no final dos anos 70. Antes era na mão, com folhas de ofício e folha de carbono”, conta o professor.
Morador de Picada Café, Adilo deu sua primeira aula após passar em um concurso em Nova Petrópolis em 1971, aos 18 anos. Ele foi convocado para trabalhar na hoje extinta escola Tiradentes, na divisa de Linha Olinda e Linha Nova. Lá, ele ficou apenas um ano com os alunos do 2º, 3º, 4º e 5º ano. “A outra professora ficou com os dois 1ºs, que dava o mesmo número de alunos”, conta.
No ano seguinte ele foi trabalhar mais perto de casa, na Picada Holanda, em Picada Café. A escola Ernesto Dorlenes, professor e comunidade começaram praticamente do zero e o professor guarda com carinho a foto da primeira turma, em preto e branco, feita por um fotógrafo que passava pelo local. “Naquele tempo não era tão fácil fazer esses registros”, lembra. Nesta escola ele ficou até 1996, quando foram encerradas as atividades pela baixa de alunos. O professor conta que foi um grande desafio lecionar na localidade. “Eu tinha do pré até a 4ª série. Isso foi um desafio grande para mim, porque eu tinha que alfabetizar e preparar para ir pro 5º ano, que era na Décio. Alguns alunos chegavam na escola sem falar português. Tinha que ensinar a falar, depois a escrever, para aí poder lecionar”, explica. Para lidar com as diferentes idades, o professor separava o quadro negro, que na escola era verde, em quatro espaços. “Começava no primeiro para o 1º ano, quando passava para o 2º ano, o 1º já ia fazendo as atividades. Quando chegava no 4º, os alunos do 1º já tinham acabado”, explica. “Para mim foi mais fácil porque eu tinha o domínio do conteúdo até o 5º ano”.
Ainda atuando na Picada Holanda, o professor começou a dar aula também na Picada São Paulo, que pertencia a Dois Irmãos. Na localidade ele segue até hoje, na escola Francisco Weiler, em Picada São Paulo, atualmente Morro Reuter. Ele também deu aulas no Walachai e em outras escolas do município. No ano passado, no Dia da Matemática, 6 de maio, o hoje professor de matemática comemorou 50 anos de magistério e recebeu homenagens de seus alunos em Morro Reuter.
TRANSFORMAÇÕES EM SALA DE AULA
Além do mimeógrafo, que foi novidade para o professor que começou fazendo cópias à mão para os alunos, o professor vivenciou muitas mudanças na educação brasileira. No início dos anos 70 houve a primeira mudança passando os “anos” para as “séries”, que mudou novamente nos anos 2000. A tecnologia também foi entrando em sala de aula. Por conta da pandemia, o professor precisou se atualizar e aprender a usar a tecnologia a seu favor. “Houve muita mudança. Comecei no manuscrito e por conta da pandemia no ano passado eu fiquei dando aula daqui, aula remota (mostra o computador). Acompanhei essa revolução, foi muito diferente no passado e eu senti muito essa transformação. Imagina eu começar no manuscrito e chegar aqui no computador e ter que dar uma aula online, as crianças lá do outro lado me acompanhando. É uma coisa que quase não dá para entender. Mas por força dessa pandemia tive que me adaptar”, revela. “A distância entre alunos e essas idades vão se distanciando ainda mais. Acho que já fiz a minha parte, e eu sempre gostei do que eu fiz”, conta o professor que ainda não definiu quando deixará a sala de aula, mesmo acreditando que seja em breve.