Geral
Campanha inédita
Por Alexandre Garcia
Nunca vi uma campanha eleitoral como essa, desde que votei em Jânio Quadros para presidente, em 1960. Parece significar uma mudança para maior participação do eleitor, graças às redes sociais. Os políticos e partidos tradicionais se expõem como ultrapassados; perderam um tempo enorme em negociações de alianças para ganharem mais tempo no Horário Eleitoral e os resultados não são medidos pelo tempo que conseguiram – que digam os grandes partidos e as grandes coligações. O smartphone individual, do eleitor, pontificou, superando a força dos marqueteiros de contas gigantescas de origem em caixa 2. Os marqueteiros foram condenados à obsolescência nesta campanha. E vão de braços dados com políticos que não perceberam a tecnologia.
Tampouco perceberam que a mentira ficou com as pernas curtas, quando checada no mundo digital, com a História e a enciclopédia ao alcance de algumas digitadas. Com isso, estão se afogando na própria mentira o populismo e a demagogia. Ficou todo mundo com uma câmera na mão, tipo “mato a cobra e mostro o pau” – a informação é o próprio fato registrado em pixels, sem contestação. Sim, há o perigo das fakenews, mas nada que uns bons neurônios não possam perceber fotos que passaram pelo photoshop, ou descobrir que datas e dados não combinam com a lógica.
O tamanho do dinheiro para a campanha está sendo ridicularizado. Tem alguma serventia, enquanto houver políticos corruptores e eleitores corrompidos – mas está comprando cada vez menos, porque as pessoas de 2018 estão entrando em campanha por ideal, não por dinheiro. E ainda que a Ficha Limpa não tenha conseguido deixar de fora muito candidato, o eleitor tem, nesta campanha, acesso às fichas com o passado de todos. As pessoas estão dispensando tutela para suas escolhas.
Sim, a campanha deste ano teve violência. Sair com a camisa ou bandeira de outro candidato e passar pela manifestação contrária tem sido um gesto de audácia suicida, mostrando que ainda falta muito para civilizar uma parte da militância. Muito parabrisa foi quebrado a pauladas, muito carro chutado, muita ameaça usou as redes sociais. Houve até a facada que tirou da campanha pelos 30 dias finais da campanha, o candidato líder nas pesquisas. Todavia, nem a ausência do esfaqueado, nas ruas e nos debates, alterou a consciência de seus seguidores. Talvez seja uma amostra da maior das mudanças deste ano: o enfraquecimento do clientelismo e do fisiologismo, com fortalecimento do senso do eleitor em relação à responsabilidade do voto. É no eleitor que começa a existência de bons ou maus representantes no Executivo e no Legislativo.