Coluna Nova Petrópolis

Agora os políticos corruptos chamam tudo “fake news”

20/11/2018 - 11h00min

Atualizada em 20/11/2018 - 11h26min

Procuro ser um otimista. Mas quando o assunto são as “fake news” ou “notícias falsas”, sou obrigado a pensar que o pior ainda está por vir. No início do mês aconteceu em Santana do Livramento o 20º Congresso dos Diários do Interior do RS, no qual fui designado pelo Diário para ser mediador de um painel sobre “fakes” no jornalismo. O palestrante, professor universitário Rafael Hoff, expôs as muitas formas de se criar e/ou divulgar uma notícia falsa. Basta ir ao Facebook e compartilhar uma notícia de alguns anos atrás. Pronto. Fora do contexto temporal, a notícia de que tal político está sendo investigado por corrupção pode ter efeitos devastadores. Talvez o político até já tenha sido inocentado. Mas a notícia anterior, sobre as suspeitas, continua lá, prontinha para ser “requentada”, como se atual fosse. Este é apenas um exemplo sutil em um contexto geral no qual existem organizações especializadas em criar notícias falsas. No Oriente Médio, onde os ataques violentos são constantes, um terrorista não precisa mais colocar uma bomba em uma ponte durante uma procissão religiosa. Basta ele espalhar a informação que a bomba está lá. O tumulto será quase igual ao de uma explosão de dinamite.

PARA PIORAR

Como vimos, uma “fake” pode ser sangrenta. Mas por que eu penso que o pior ainda está por vir? Quando as notícias falsas começam a tomar conta, a desconfiança passa a ser salutar. E não faltará quem se aproveite disso, também. Ficou fácil para qualquer político acusado de corrupção ou congêneres. A resposta que ele precisa dar é simples: “tudo não passa de fake news contra a minha pessoa!”.

O EXEMPLO DO ‘KIT GAY’

Aqui não se trata de corrupção, mas de uma decisão governamental que gerou muita polêmica. Bolsonaro ganhou pontos na campanha ao se colocar contra o projeto do “kit gay” do governo de Dilma. Como os petistas reagiram? Disseram que eram “fake news”. A minha opinião: o nome “kit gay” carrega uma forte dose de marketing eleitoral. Porém, é inequívoca a afirmação da então presidente Dilma no dia 26 de maio de 2011: “O governo defende a educação e também a luta contra práticas homofóbicas. No entanto, não vai ser permitido a nenhum órgão do governo fazer propaganda de opções sexuais”. Dilma disse isto no dia em que o governo dela engavetou o projeto de educação sexual ao qual Bolsonaro deu o nome de “kit gay”. Pode ser que a proposta não tenha chegado às escolas. Mas ela estava em andamento. Fake news?

FAKE NEWS

É verdade que até a imprensa anda insatisfeita com a atuação da imprensa. Mas qual cidadão se atreveria a abrir mão dos casos de corrupção e atos de má gestão já denunciados pelos jornais? Por conveniência pura, os alvos deste tipo de notícia falarão que tudo não passa de “fake news”. Não é!

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