Do lado de cá ficam na rua, coisa impensável do lado de lá

Depois da paralisação dos caminhoneiros, a vida aqui fora voltou ao normal. Quero dizer do lado de cá do muro, que nos separa daqueles privilegiados que estão do lado de lá do muro. Do lado de cá continuamos a pagar a altíssima conta com impostos que nos impingem muito suor e sacrifício. Do lado de lá do muro a vida também continua igual. Os privilégios são os mesmos e ninguém tirou um pedaço dos desperdícios que tem.

SUOR

Do lado de cá continuamos com muito suor todas as semanas a pagar o que dá para repassar para eles. Lutamos com muito trabalho. Muitas empresas fecham as portas porque não conseguem se sustentar. E do lado de lá eles não abrem mão de um único centavo para diminuir nosso sacrifício. Com isso eles nos exigem cada vez mais. Mas como pagar cada vez mais impostos se tem cada vez menos empreendedores do lado de cá? Quando menos tem mais cada um tem que pagar para sustentar os privilégios que ninguém abre mão.

APERTO

Do lado de lá o TSE acabou de comprar equipamentos para fisioterapia e academia de seus funcionários. E de onde vai sair o dinheiro dos que estão do lado de cá e que precisam pagar a conta? Provavelmente haverá um maior aperto na fiscalização dos que estão do lado de cá. E isto pode acabar em mais autuações com 200% de multa nos impostos não recolhidos. Com menos dinheiro quem frequentava uma piscina em algum lugar vai ter que se contentar com uma beira de rio no verão. No inverno como agora terá que andar com a roupa velha do ano passado. Com isso as lojas vendem menos e ganham menos.

SAÚDE

Do lado de cá, se nós não quisermos morrer em filas do SUS, temos que pagar planos de saúde. Como não dá mais para pagar, sobra o SUS. Os que estão com câncer, muitas vezes morrem na fila do SUS esperando atendimento que nunca vem. Os que estão do lado de lá têm planos de saúde e odontológico da melhor qualidade. O salário no final do mês aumenta acima da inflação e eles não têm com que se preocupar. Vivem num mundo de abastados graças ao nosso trabalho e sacrifício do lado de cá.

MORADIA

Do lado de cá quem tem casa própria muitas vezes perde. Quem mora de aluguel tem que passar de dois para um quarto e talvez até mesmo para uma quitinete. Quando não pode mais pagar vai morar com parentes. Do lado de lá embora ganhem cada vez mais, recebem mais de R$ 4 mil para auxílio-moradia mesmo que morem em casa própria. Os privilégios são sórdidos e, mesmo ganhando R$ 30 mil, acham que é justo. É que eles não têm contato com a vida do lado de cá. Isolados num mundo de fausto, vão sugando as últimas gotas de sangue dos que estão do lado de cá.

EDUCAÇÃO

O que estão do lado de cá recebem uma educação de má qualidade, sujeita a greves de acordo com a vontade da entidade de classe e perdem até 90 dias de aula. A educação é sofrível e não dá para passar no Enem tampouco no vestibular de uma universidade federal que não custa nada. Se querem estudar tem que pagar universidades particulares que são caras. 90% desistem porque não tem dinheiro. Os que estão do lado de lá estudam nas melhores escolas e depois ingressam nas faculdades públicas que são de graça.

DO BOM E DO MELHOR

Enfim, eles têm do bom e do melhor, graças ao povo aqui fora que trabalha meio ano para sustentá-los. O outro meio ano para si. De braços cruzados quem está do lado de lá nem se preocupa com crise alguma. Do lado de cá volta e meia é demitido por causa da recessão que o lado de lá nos impõe com suas mordomias e que nem atinge eles porque tem estabilidade no emprego. Aqui do lado de fora ficam na rua mesmo, coisa impensável do lado de lá. Na hora de se aposentar aqui fora o INSS tem teto. Do lado de lá não existe isso. Eles se aposentam com salário cheio ou maior. Menor nunca.