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Dr. Sander Fridman: Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo

20/02/2020 - 09h43min

Atualizada em 21/02/2020 - 11h13min

O entorpecimento químico é prática humana milenar, que acompanha a humanidade desde seus primórdios. Há registros arqueológicos e documentais que remontam a mais de 10.000 e 5000 anos, respectivamente.

A Bíblia flagra Noé em constrangedora embriaguez. A dependência e o abuso não médico de substâncias psicoativas – álcool, tabaco, café, drogas ilicitas, além de medicamentos de prescrição controlada – aumenta a relevância e o tempo de envolvimento na aquisição, uso e recuperação do uso das substâncias, entre as ocupações e preocupações cotidianas do doente, em substituição aos aspectos sadios da vida (busca e envolvimento com trabalho, estudos, progresso pessoal, relações e compromissos interpessoais e familiares, atividades comunitárias, vida religiosa, espiritualidade).

O estado frequente de embriaguez (não só por álcool) altera o modo habitual de ser da pessoa, tornando-a mais frequentemente apática ou irritável, depressiva ou agressiva, ansiosa ou medrosa, quando não paranoide e “esquizofrênica”. Quadros esquizofreniformes multiplicaram-se nas sociedades que tiveram descriminalizado o uso de maconha. A dependência se constitui usualmente por dois aspectos, o físico e o psicológico, sendo geralmente o segundo mais relevante.

O primeiro é determinado pelos sintomas de abstinência, de falta, conforme a ação da substância sobre o cérebro, que a ela se adapta, ficando fisiologicamente dependente, reagindo intensamente à sua interrupção abrupta, nos piores exemplos o álcool, os barbitúricos e os benzodiazepinicos (diazepam, alprazolam, clonazepam, fenobarbital, etc). Pode ser muito perigosa a abstinência nestes casos, com risco de muita ansiedade, convulsões, psicose, morte. A dependência psicológica é determinada por fatores emocionais, existenciais, sociais e culturais, associados a importantes aspectos da identidade e sua expressão, sentimentos e necessidades de pertencência a grupos.

Esse é, em nossa opinião, de longe, o principal fator determinante do início e da manutenção do uso das substâncias, que resiste mesmo quando a realidade grita contra o alto custo do hábito, em relação à lei, à família, ao amor, ao trabalho, e ao bem estar econômico e social. No primeiro caso, pode ser indispensável o uso de medicamentos substitutos da droga, e sua retirada progressiva; no segundo caso, a chamada entrevista motivacional, terapias de enfoque pragmático e ao mesmo tempo refexivo.

As condições neuropsiquiátricas do paciente (por sequelas cerebrais, diretas ou indiretas, das drogas – encefalopatias por traumas cranianos, AIDS, desnutrições específicas, quadros isquêmicos, etc) podem inviabilizar sua capacidade para desenvolver uma consciência crítica sobre sua condição e dificuldades, e até sua capacidade paraexercer o auto-controle, sendo nesses casos, pendente de avaliação qualificada, indicada a internação psiquiátrica até a recuperação neuropsiquiátrica plena de sua capacidade mental. Grupos de ajuda são úteis e indicados em alguns casos, tanto para pacientes como familiares, para compartilhamento, aceitação do problema, intercâmbio de estratégias de enfrentamento, e apoio mútuo.

A busca de ajuda pode iniciar pela família, o padre ou pastor, um professor, um amigo sábio, o serviço de RH, psicológico ou médico da empresa. A busca de ajuda profissional envolve alternativamente um médico generalista, psiquiatra, psicoterapeuta, assistente social, a nível ambulatorial/consultório, ou de emergência psiquiátrica, em hospital psiquiátrico ou geral, tudo dependendo das condições de cooperação do paciente, às vezes se iniciando via atendimento policial ou SAMU, conforme a legislação e a disposição política do dia, pois as mudanças normativas têm sido contínuas, conforme a postura de cada legislatura, ou dos que se ocupam de pastas relevantes para o problema, como de segurança e/ou saúde, a nível municipal, estadual ou federal. O problema, para o bem e para o mal, é extremamente politizado.

O Dr. Sander Fridman é Doutor em Psiquiatria pela UFRJ.

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