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10 anos depois, motorista irá a júri por mortes no trânsito em Morro Reuter

22/07/2019 - 17h38min

Atualizada em 24/07/2019 - 10h28min

Morro Reuter/Dois Irmãos – Uma década após um grave acidente de trânsito que causou grande comoção em Morro Reuter, a Justiça decidiu que o condutor do veículo irá a júri popular pela morte de dois amigos. Este será o primeiro julgamento pelo Tribunal do Júri por homicídio de trânsito na Comarca de Dois Irmãos, que também atende Morro Reuter. O motorista Fabio Luis Oberherr será julgado pela morte dos amigos Ademir José Honig e Mauri Jair Krewer Hertz. O acidente de trânsito ocorreu no dia 15 de outubro de 2009, na altura da Curva do Peruano, na BR-116, entre Dois Irmãos e Morro Reuter. Fabio conduzia um Omega, na direção Novo Hamburgo/Morro Reuter, quando se perdeu, atingiu uma árvore e capotou. Ademir, na época com 39 anos, morreu no local e Mauri, que tinha 28, faleceu horas mais tarde, em decorrência das graves lesões. Fabio sofreu apenas escoriações. Outro caroneiro, Cristiano Frederico Dilly, ficou em estado gravíssimo e após longo tempo na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) recebeu alta, mas ficou com sequelas. No veículo, havia seis pessoas. Também estava no acidente, mas não se feriu, Luciano Petry.

A disputa judicial durou 10 anos. Enquanto o Ministério Público defendia o julgamento por homicídio doloso, quando tem a intenção de matar ou assume o risco pela morte, o advogado de defesa contestava que as mortes foram resultados de homicídio culposo, sem a intenção de matar. A juíza da época, Fernanda Pinheiro Tractenberg, decidiu pelo homicídio doloso, que levaria Fabio a júri popular. Em recurso da defesa, os desembargadores do Tribunal de Justiça de Porto Alegre decidiram que o caso se tratava de homicídio culposo e não havia elementos que justificassem o caso como doloso. A acusação recorreu ao Superior Tribunal de Justiça, em Brasília, e a decisão final, após anos de entrave legal, é de que Fabio será pronunciado ao Tribunal do Júri. Este é um caso que marca história na Comarca local. Nunca antes um homicídio de trânsito havia sido julgado dessa forma.

MP denuncia embriaguez, alta velocidade e manobras arriscadas

O promotor público Wilson Grezzana, que está à frente do caso desde o primeiro dia, acusa Fabio de ter cometido homicídio doloso. Nos autos do processo, ele aponta o que considera as principais causas para o acidente e, em decorrência, da morte de duas vítimas. Baseado em depoimentos e nas provas colhidas, Grezzana acusa que Fabio estava embriagado, efetuando manobras arriscadas e dirigindo em alta velocidade em um dia com neblina e chuva. Para ele, o acidente ocorreu em razão das atitudes de Fabio na condução do veículo. “O denunciado e os amigos frequentaram um bar de Novo Hamburgo na tarde do dia 15, onde todos ingeriram bebidas alcoólicas. No caminho de retorno para a cidade de Morro Reuter, o denunciado continuou a consumir cerveja, mesmo pilotando o automóvel. Amigos solicitaram, então, que Fabio deixasse que outro ocupante assumisse a direção do automóvel, porquanto imprimia alta velocidade e chovia no momento; no entanto, houve negativa de Fábio, sob o argumento de que ‘era motorista de caminhão e sabia o que estava fazendo’. Após isso, chegando no km 219 da BR-116, em face da alta velocidade imprimida no veículo, somada à circunstância de estar embriagado, ele perdeu o controle sobre o automóvel que pilotava, chocou-se contra uma árvore existente no acostamento da via, assumindo, pois, em razão desse comportamento, o risco de causar o resultado lesivo”, descreve o promotor, reiterando as causas. “Ele assumiu o risco de causar a morte das vítimas Ademir e Mauri ao ingerir bebida alcoólica mesmo tendo conhecimento de que conduziria o automóvel logo em seguida, aliado à circunstância de que conduzia o veículo de modo incompatível com as condições do local (alta velocidade e pista molhada), sendo que seu comportamento foi essencial para a ocorrência do sinistro”.

Réu alega que bebeu poucas latas e acha que dirigia a 80km/h

Ao ser interrogado, em juízo, Fabio declarou que havia ingerido uma ou duas latas de cerveja, no máximo, e chovia naquele dia, mas não se lembrou da velocidade que trafegava, mas acha que estava a cerca de 80 km/h. Ele confirmou que estavam seis pessoas no veículo e não lembra de alguém ter pedido para maneirar na velocidade. Contou que foram até Novo Hamburgo, depois na Tenda da Figueira, onde compraram cervejas e linguiças. Relatou que os amigos insistiram e ingeriu uma ou duas latinhas de cerveja, mas não lembra de ter corrido demais, referindo que, no local do acidente, o carro aquaplanou. Ele também nega que pediu para Airton assumir a direção depois do sinistro e afirma que ninguém estava usando cinto de segurança, nem ele e nem os amigos. Inicialmente, a defesa de Fabio estava a cargo do advogado Hilmar Zamboni. Agora, o processo está com o advogado criminalista, Nelson Silveira, de Novo Hamburgo.

Depoimentos de amigos divergem ao do motorista

Airton Krewer, que se feriu e recebeu alta logo depois, afirmou que todos estavam no bar e todos beberam, inclusive o motorista, mas não soube precisar a quantia. Não soube dizer o motivo pelo qual o veículo perdeu o controle. Aduziu que, em algumas partes do percurso, pediram para Fabio maneirar, mas, no momento da colisão, não soube dizer qual velocidade estavam. Em juízo, reiterou que o asfalto estava molhado e havia cerveja dentro do veículo, sendo que pararam na Tenda da Figueira na volta, onde compraram cerveja e acha que tomaram pelo caminho. Disse que pediu para Fabio reduzir a velocidade, pois estava exagerando, para ir devagar porque estava chovendo e Fabio respondeu que era motorista de caminhão e sabia o que estava fazendo. Falou que Cristiano ficou com prejuízo intelectual em razão do acidente. Não recorda se disse para Fabio deixá-lo dirigir, mas confirma que Fabio puxava o carro nas curvas e dizia que conhecia o seu automóvel, que ele era firme.

SEGUNDO DEPOIMENTO – O outro ocupante do veículo, Luciano Petry, relatou que estava no veículo no dia do acidente, sendo que se encontraram por acaso em Novo Hamburgo, ficaram juntos na festa por cerca de 1h30 e beberam. Ele contou ainda que teria ingerido umas 5 ou 7 latinhas e os demais estavam bebendo também. Disse que já tinha saído com Fabio outras vezes e sempre beberam. Referiu que Fabio estava dirigindo de forma brusca, chamaram a sua atenção e ele deu uma maneirada. Aduziu que, depois da Tenda da Figueira, não beberam mais, mas antes, beberam um restinho de latinhas que trouxeram nas mãos. Viram que Fabio estava ligeiro, já alterado pela bebida, e ao perceber que a estrada não estava adequada para aquela velocidade, reclamou com ele. Relatou ainda que Fabio andava entre 100 e 120 km/h. Airton pediu para Fabio deixá-lo dirigir quando saíram de Novo Hamburgo. Não recordou se Fábio vinha bebendo dentro do veículo, mas lembra que ele dizia que era motorista de caminhão, sabia dirigir, que o automóvel era dele e, portanto, ele ia dirigir. Após o acidente, viu Fabio retirar sacolas com bebidas e jogar no meio do mato, antes da chegada do socorro. Não sabe quanto Fabio bebeu, mas no período em que o depoente estava com eles no bar, cada um bebeu umas 5 ou 7 latinhas.

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