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A Rosa de Hiroshima: japoneses da região contam histórias sobre a bomba atômica

07/08/2020 - 10h34min

Atualizada em 07/08/2020 - 10h35min

Imigrantes que residente na região relembram uma das maiores atrocidades da histórias (Créd. Rodrigo Thiel)

Ivoti – Era por volta das 8h15min da manhã do dia 6 de agosto de 1945, quando um avião bombardeiro americano lançou uma bomba atômica sobre a cidade japonesa de Hiroshima, com o intuito de pôr fim à Segunda Guerra Mundial. Entretanto, a ação culminou num extermínio imediato de cerca de 140 mil pessoas, e até hoje sua justificativa é discutida no campo da ética. Ontem, o povo japonês recordou o fato, como assim o faz desde 1946, como homenagem às vítimas do primeiro ataque nuclear da história.

Parece longe, a cerca de 20 mil quilômetros da Encosta da Serra, mas a realidade e os traumas causados pela Rosa de Hiroshima refletem e vivem aqui na região. Morador da Colônia Japonesa, Kuniharu Orita, de 84 anos, lembra do momento exato da explosão da bomba que devastou uma cidade inteira: “o dia estava diferente. Não tinha vento nenhum. E de repente deu um clarão no céu”. Com apenas oito anos na época, Orita residia em um município a cerca de 100 quilômetros de Hiroshima.

O epicentro da bomba também foi local de nascimento de outro morador da região. Nobuichi Onishi, que mora no Travessão, em Dois Irmãos, nasceu em 1951, e suas lembranças do fato vêm de memórias e relatos de sua mãe. “Na época, minha família morava em Kure, cerca de 25 km de Hiroshima. Quando deu a bomba, minha mãe estava na estação rodoviária junto com o meu irmão. Ela contava que clareou o céu e levantou uma nuvem em formato de cogumelo”, relembrou.

Ataque causou a morte de 140 mil pessoas e a devastação completa de Hiroshima

Desconhecimento

O ocorrido ainda seguia um mistério para os japoneses. A gravidade só foi percebida instantes depois, com as primeiras informações. “Passou cerca de uma hora e começou a aparecer algumas pessoas que estavam fugindo de Hiroshima com partes da pele caindo, penduradas no corpo”, disse Onishi. A região ainda registrou uma chuva ácida após a explosão, que espalhou o urânio da bomba em uma larga área. “Por sorte, eles ainda estavam dentro da estação, e não foram atingidos e não pegaram radiação”, prosseguiu.

Pós-guerra

Além de terem ligações próximas com a bomba em Hiroshima, outro fato está relacionado com as vidas de Onishi e Orita: ambos vieram para o Brasil alguns anos depois em busca de trabalho, devido às baixas condições do Japão pós-guerra. “A economia já não estava boa e não tinha comida direito. Me marcou muito depois que os americanos, depois que largaram a bomba, nos traziam biscoito e comida”, contou Orita, que veio para Ivoti em 1956.

Já Onishi chegou aos 18 anos em Dois Irmãos, em 1970. Ele relembra que, perto de finalizar o equivalente ao ensino médio no Japão, se interessou por cartazes convocando a população a tentar a vida em outros países. “Já tinha muita fome no Japão por conta da guerra mesmo. Depois a economia seguiu ruim e o governo começou a incentivar que jovens saíssem do país, à procura de trabalho”, relatou.

Debate sobre o ataque

Além da crise, o povo japonês teve a grande tarefa de reconstruir a cidade, tomando cuidado com os altos índices de radioatividade. “Hiroshima foi destruída com a bomba, ficaram só as estradas. Achavam que não iam nascer mais nada. Não demorou muito e a cidade já estava de pé. Só ficou o memorial”, destacou Onishi.

Até hoje se discute a necessidade do ataque americano com bomba atômica. Alguns dias depois, uma segunda foi também lançada em Nagasaki, destruindo não apenas a cidade, mas milhares de outros sonhos. “Japonês matou americano também. Era uma guerra. Na época, o presidente dos Estados Unidos disse que foi necessário para terminar com o conflito. Talvez não fosse preciso ter tomado esta atitude, matando pessoas desse jeito”, finalizou.

Kuniharu Orita e Nobuichi Onishi: moradores da região que trazem consigo as lembranças de uma guerra

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