Destaques
Após seis meses: perícia encontra DNA do ex-prefeito Toco nas unhas da companheira
Estância Velha – A manhã do dia 29 de dezembro de 2018 ainda não saiu da memória da comunidade estanciense. A notícia de que o ex-prefeito Elivir Desiam, o Toco, 57 anos, havia matado a namorada Lucia Bialoso Valença, 35 anos, e após cometido suicídio, no Litoral Norte, deixou em choque uma cidade que tinha o político como uma sumidade.
Seis meses desde o crime se passaram e o caso está prestes a ser concluído pela Polícia Civil. A investigação, que já reúne um número aproximado de 300 páginas, aguarda apenas o resultado da perícia do corpo de Lúcia para saber o que causou sua morte.
Conforme o delegado Márcio Niederauer, a linha de investigação segue inalterada, ou seja, a investigação segue apontando que o ex-prefeito cometeu o feminicídio e em seguida se matou. “Devemos encerrar esse caso nos próximos dias ou semanas, estamos justamente cobrando do IGP o resultado da necrópsia do corpo da Lucia para saber o que a levou a óbito”, informou o delegado.
A ex-mulher de Toco, Sueli Cardoso Lopes, com quem ele tinha dois filhos adotados, prefere não falar sobre o caso por enquanto. Segundo ela, o sofrimento da família, especialmente dos filhos, ainda é muito grande. O Diário não conseguiu contato com familiares de Lucia.
POR ONDE TOCO PASSOU APÓS MATAR NAMORADA
Um mapa, com base nos sinais emitidos pelo aparelho celular de Toco, foi construído e ajuda a compreender o crime. De acordo com o levantamento feito pela Polícia, através de uma autorização judicial para a quebra do sigilo telefônico, Toco matou a companheira ainda na noite de sexta-feira, dia 28 de dezembro.
No mesmo dia, seguiu rumo ao Litoral Norte, chegando somente na manhã do dia seguinte a Imbé, cidade onde morou com a ex-mulher, Sueli Cardoso Lopes, após deixar a presidência da Fenac.
A última vez que o celular de Toco indicou sua presença em Estância Velha ocorreu às 20h14 de sexta-feira (dia 28). O horário coincide com a última vez que Lucia – ou alguma outra pessoa – acessou o aplicativo de mensagens WhatsApp instalado no aparelho celular dela. No dia em que os corpos do ex-prefeito e da namorada foram localizados, o Diário conseguiu um indício de que o celular dela foi manuseado, exatamente, às 20h26 de sexta-feira, dia 28 de dezembro. Essa foi a última vez que mensagens foram visualizadas em seu WhatsApp.
Depois disso, as Estações Rádio Base (ERB’s) confirmam que Toco transitou pela BR-116, de São Leopoldo até Porto Alegre, e ingressou na BR 290 (Freeway), com destino ao Litoral. Ainda pelas referências das ERB’s, quando estava a caminho da praia, Toco parou na Freeway, no trecho entre Santo Antônio da Patrulha e Osório. Entre a 0h13 e as 7h18, já do dia 29, o aparelho celular de Toco não emitiu nenhum novo sinal, o que indica que ele tenha parado em algum local ou até mesmo no acostamento da rodovia.
Os próximos sinais indicam sua chegada a Imbé. O último sinal emitido pelo celular de Toco ocorreu às 7h48 de sábado (dia 29/12), já no perímetro onde sua ex-mulher mora e onde, posteriormente, seu corpo foi localizado boiando no mar. Os aparelhos celulares de Toco e de Lucia nunca foram encontrados.
DNA de Toco encontrado debaixo das unhas de Lucia
Embora necessite de laudo que aponte a causa da morte de Lucia, alguns exames complementares já se encontram em poder da polícia. É o caso da perícia feita no fígado da namorada de Toco, que indica a presença de substâncias químicas no seu organismo. Tais substâncias seriam medicamentos de uso controlado (tarja preta) receitados para pacientes em tratamento com psiquiatras.
Lucia estava sendo acompanhada por um médico e fazia uso de fármacos antidepressivos. Ainda, conforme uma amiga pessoal, que inclusive foi ouvida pela Polícia Civil ao longo da investigação, Lucia fazia o uso de remédios tarja preta em um tratamento de emagrecimento.
Contudo, o exame mais importante e recente incluído no inquérito possibilita chegar a algumas suposições. No final de abril deste ano, o Instituto Geral de Perícias (IGP) encaminhou o resultado de um exame solicitado pela Polícia Civil para saber se havia material genético de Elivir Desiam presente no corpo da namorada. O resultado foi positivo. De acordo com o laudo do IGP, foi possível detectar fragmentos (restos de pele) debaixo das unhas de Lucia.
Ao analisar esse material e cruzar com o perfil genético de Toco, os peritos confirmaram que se tratam de fragmentos com o DNA do ex-prefeito. Esse resultado pode indicar desde uma briga entre o casal até uma reação de defesa da vítima em eventual ato de estrangulamento. O delegado Márcio destaca que o resultado traz uma prova técnica para dentro do inquérito, que reforça a tese de feminicídio seguido de suicídio. “Isso nos indica que pode ter havido luta corporal entre ambos”, observou o delegado Márcio.