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Caso Josef Lüdke: surgem novas informações sobre assassinato de empresário em Nova Petrópolis
Nova Petrópolis – Gelmar do Nascimento, de 39 anos, está preso desde o dia 19 de março pelo assassinato a sangue frio do empresário Josef Paulo Lüdke, ocorrido na noite anterior. O processo contra o jardineiro, assassino confesso, é tratado como latrocínio, ou seja, roubo seguido de morte, pelo fato do celular e dinheiro da vítima ter sido levado na noite do crime. Porém, novas informações indicam que ele pode ter planejado matar o empresário e, dessa forma, ao invés de ser indiciado por latrocínio, poderá ser indiciado por homicídio. Se isso acontecer, ele deverá ir a júri popular. O Diário obteve informações exclusivas das investigações, conversando com testemunhas.
O que levou a justiça a abrir a possibilidade de que o crime foi planejado, é o fato de que peritos encontraram no celular do assassino, conversas com uma moradora da cidade de Parobé, no Vale do Paranhana. Para esta mulher, Gelmar enviou um áudio em que dizia: “Eu tô aqui escondido em cima de uma árvore. Eu sei onde o louco vai passar e vou lá estourar a cabeça dele”. Tal gravação foi enviada por volta das 20 horas do dia 18 de março, menos de duas horas antes de Gelmar agredir Josef Lüdke com cerca de 15 golpes de enxada e picareta na cabeça do empresário. O crime ocorreu na Property Eventos, propriedade de Josef usada para festas, onde ele ia diariamente alimentar cães e fazer outros serviços.
A moradora de Parobé, que recebeu o áudio, teria respondido algo como “não louco, não vai fazer isso aí, vai se incomodar”. Ela também prestou depoimento à justiça, mas não há indícios de que esteja envolvida no crime. Porém, uma segunda pessoa deve ser ouvida nesta sexta-feira, 29, por suspeita de participação no assassinato.
Suposto envolvimento
O assassino nega ter roubado o celular e o dinheiro da vítima, e ainda alega que agiu em legítima defesa contra o idoso de 65 anos, que possuía problemas de saúde como reumatismo e trombose. No entanto, no dia de sua prisão, a enteada de Gelmar, que residia com ele, entregou à Polícia Civil, na própria delegacia, o aparelho celular de Josef e cerca de R$ 500,00.
A justiça não trata esta enteada como uma suspeita de ter estado com Gelmar no local do crime, no entanto ainda não excluiu essa possibilidade, ou mesmo que uma outra pessoa tenha estado lá. A mulher foi intimada para prestar depoimento, mas não foi. A audiência então foi marcada para a semana seguinte, inclusive com um oficial de justiça indo até a casa dela para levá-la à oitiva. Porém, ao chegar no endereço, ela havia “sumido”. Recentemente, descobriu-se que ela está morando em Campo Novo, há mais de 450 km de Nova Petrópolis. Nesta sexta-feira, 29, ela deverá prestar depoimentos lá mesmo, no norte do Estado.
Como tudo aconteceu
Ainda era dia e o sol brilhava no fim da tarde de 18 de março. Gelmar estava em casa, no bairro Pousada da Neve, e ligou para um taxista pedindo uma corrida antes das 18 horas. O carro parou em frente a seu endereço e o futuro assassino indicou a Property Eventos, no Morro da Fome, como destino.
No caminho, ele pediu ao taxista que parasse no posto de combustíveis próximo à entrada para o Vale Verde para que ele comprasse cerveja. De lá, seguiram e Gelmar foi deixado na subida da propriedade privada. Às 18h11 minutos, as câmeras de segurança o flagraram entrando no local, sozinho, exceto pela companhia de alguns cães. O jardineiro foi até um açude e por lá ficou bebendo. Cerca de duas horas mais tarde, enviou o áudio em que diz que estouraria a cabeça do empresário, já descrito mais acima.
Rotina
Enquanto isso, Josef Lüdke seguia sua rotina. Depois de deixar a Embutidos Lüdke, no km 5 da ERS-235, foi até a Property como sempre fazia. Lá, ele alimentava os cães, regava a grama e fazia outras tarefas, afinal, era sua propriedade. O empresário chegou ao local por volta das 18h40, cerca de meia hora depois de Gelmar. Não demorou muito e um amigo de Josef também chegou ao local para conversar e tomar uma cerveja com o empresário. Este amigo, que estava acompanhado da filha, viu Gelmar à beira do açude enquanto dirigia-se para o chalé em que Josef estava, no fim da propriedade. Embora seja um local privado, era comum que pessoas fossem ao local apreciar a paisagem, pois o local oferece uma vista ampla de cima dos morros. Josef, dono do local, não tinha o costume de expulsar os visitantes.
O ataque
Depois de um tempo, o amigo de Josef foi embora, deixando o empresário sozinho. Gelmar, que havia dito que estava escondido em uma árvore, viu as pessoas saindo e foi até o Chalé onde estava a vítima. Lá, ele usou uma enxada e uma picareta para golpear Josef na cabeça. A brutalidade foi tanta, que até mesmo o braço esquerdo do empresário foi quebrado quando ele tentava se defender do ataque. Os ossos dos dedos da mão, assim como sua mandíbula do lado esquerdo, também ficaram expostos devido aos cortes ocasionados pela enxada. Na cabeça, ainda ficou um ferimento profundo feito com a picareta.
“Eu tô aqui escondido em cima de uma árvore. Eu sei onde o louco vai passar e vou lá estourar a cabeça dele”
Estes fatos aconteceram perto das 22 horas, horário em que, por costume, Josef já teria voltado para casa. Porém isso não havia acontecido e sua filha resolveu ligar para falar com ele. Quem atendeu o celular do empresário foi Gelmar, que ainda disse o próprio nome e falou algo como “é melhor vir pra cá”. Assustada, a filha ligou para o irmão, o ex-vereador Rafael Lüdke, pedindo ajuda e foi para o local. Com medo, ela ainda levou uma faca para se defender, caso fosse preciso.
Tentativa de socorro
O filho Rafael imediatamente saiu de casa. Ele ainda passou na Embutidos Lüdke para procurar o pai, mas não o encontrou. Neste momento, a namorada de Rafael ligou para o seu cunhado, que estava com a irmã, e ele disse “vem para cá que é grave”. Eles foram para a Property e lá se depararam com Josef caído. A vítima estava perdendo muito sangue, com os ferimentos já citados. Sua filha buscava forças em oração, rezando um Pai Nosso, abraçada com o pai. Josef estava agitado, tentava falar e tinha espasmos como se, por instinto, ainda quisesse se defender. Ao seu lado, o boné branco da empresa, já totalmente vermelho, chaves e outros objetos que estavam em seu bolso. Latas de cerveja e as armas do crime também estavam próximas a ele.
A ambulância do Corpo de Bombeiros chegou algum tempo depois e o levou para o Hospital Nova Petrópolis. Rafael foi junto, mas a irmã ficou no local dando voltas na esperança de achar alguém e entender o que havia acontecido. A Brigada Militar já estava junto e ajudou nas buscas. Porém, Gelmar já não estava mais lá.
O criminoso ligou para o taxista que o levou até a Property para que ele o buscasse de volta a sua casa, mas não foi atendido. Então decidiu voltar a pé. No caminho, próximo ao pórtico de Nova Petrópolis, os policiais que iam para a cena do crime o viram caminhando e o pararam por estar com visíveis sinais de embriaguez. Mas sem saber que ele era o assassino, foi liberado e a guarnição seguiu caminho até a ocorrência, passando a buscar por alguém que já estava longe dali.
No Hospital, os médicos perguntaram quais remédios Lüdke tomava para saber quais medicações poderiam ser aplicadas. Familiares foram em casa verificar, ainda acreditando que ele poderia ser salvo. O plano era transferi-lo para Caxias do Sul, mas Josef Lüdke não resistiu aos ferimentos e faleceu ainda na noite de 18 de março, aos 65 anos. Rafael foi o primeiro a receber a notícia.
Busca pelo assassino
A responsabilidade da Polícia Civil estava em Caxias do Sul, e eles não queriam enviar a perícia pois a cena do crime havia sido modificada com o resgate de Josef. Porém, agentes da Polícia Civil de Nova Petrópolis, à época comandada pelo delegado Camilo Pereira Cardoso, ficou sabendo e assumiu o caso. A Perícia acabou vindo e encontrou, dentro do chalé, um local que indicava que alguém havia se sentado e assistido televisão. A posição do controle remoto também indicava tal possibilidade.
Estes fatos, levam a crer que, mesmo após ter agredido Josef Lüdke, Gelmar do Nascimento permaneceu no local bebendo e assistindo televisão, sem se importar com o sofrimento da vítima. “Ele é extremamente frio” disse o delegado Cardoso na época. Antes de ir embora, Gelmar, que é semianalfabeto ainda riscou com uma faca na tela da televisão uma mensagem que dizia algo como “vou buscar”.
Já durante a madrugada, as primeiras pistas foram surgindo. Após a morte de Josef, a família passou a noite na delegacia e auxiliou com imagens de câmeras de segurança. Gelmar foi visto chegando e saindo da Property, e mais a frente foi flagrado próximo ao Vale Verde. Neste momento, também é possível ver a filha de Josef passando pro ele de carro. Outras imagens mostram que ele entrou no bairro Pousada da Neve. Gelmar do Nascimento, após agredir cruelmente o empresário Josef Lüdke, de 65 anos, levando-o à morte, havia ido para casa dormir.
Sua captura era questão de tempo, mas a peça chave foi o taxista que, na manhã seguinte, contou à Polícia Civil o endereço onde havia buscado o criminoso. Eram por volta de 12h20 quando os policiais chegaram à casa de Gelmar e o prenderam. No local, havia latas de cerveja levadas da Property Eventos e as roupas dele continham o sangue de Josef. Nenhuma outra pessoa foi flagrada chegando ou saindo com Gelmar, porém, as câmeras apontavam apenas para a entrada principal da propriedade, sendo possível chegar por outros lados, inclusive em trilhas pelo mato.
Investigação
Já na delegacia, Gelmar confessou o crime, mas disse que agiu em legítima defesa. Em depoimentos à Justiça, disse que estava saindo da propriedade quando Josef tentou dar uma facada nele. Neste momento, ele teria desviado e batido na vítima, que caiu no chão. Ele afirma que após derrubar Josef, bateu no empresário apenas mais uma vez. Sobre a mensagem gravada à faca na televisão, explicou que escreveu “vou buscar”, indicando que buscaria ajuda.
A defesa não é aceita pela acusação, visto o histórico sem violência de Josef Lüdke e seus problemas de saúde. Além disso, inicialmente Gelmar estava bebendo próximo ao açude, que fica entre a entrada e o chalé onde cometeu o crime. Se ele estivesse indo embora quando supostamente foi abordado por Josef, ele deveria ter ido para o outro lado, e não para onde estava o empresário.
Sobre a mensagem que deixou indicando que buscaria ajuda, a justificativa também não é aceita porque no local havia o celular dele, o de Josef, ele falou com a filha da vítima enquanto ainda estava lá, e ainda foi abordado pela polícia quando ia embora. Em nenhum destes momentos pediu qualquer tipo de socorro. A suposta legítima defesa também é questionada pela quantidade de golpes proferidos contra Josef, que pode ter ultrapassado os 15. Os ferimentos foram tantos que não foi possível velar e sepultar Josef no dia seguinte, sendo necessário esperar até o sábado, 20 de março.
Relação entre vítima e assassino
Gelmar vivia de bicos e um deles era fazer serviço de jardinagem para uma empresa. Por duas ou três vezes, ele havia ido à Property para trabalhar, no entanto, não havia contato direto entre Josef e Gelmar. O empresário sempre negociava o serviço diretamente com o patrão de Gelmar, que enviava o funcionário para o local. Nas oitivas, o assassino alegou que a vítima havia criticado seu trabalho.
Condenação
Agora existem duas possibilidades, latrocínio ou homicídio. Se condenado por latrocínio, pode pegar de 20 a 30 anos de prisão, mais agravantes. Se for homicídio, a pena mínima é de seis anos, mais agravantes. Neste caso, o julgamento ainda iria para juri popular. Familiares querem que o processo ande mais rapidamente para que ele seja condenado e cumpra em definitivo a pena, sem riscos de habeas corpus.