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Dia dos Professores: quatro gerações da família dedicada à educação em Herval

15/10/2021 - 05h45min

Em pé: Pâmela, Carol, Angelina e Paula. Agachados: Juliano e Cristiano: todos professores (FOTO: Cleiton Zimer)

Por Cleiton Zimer

Santa Maria do Herval – Todos os dias os professores formam seres humanos através da ferramenta mais importante: a educação. Acompanham as constantes mudanças, planejam e se dedicam de forma especial por cada aluno, utilizando a troca de conhecimento para o crescimento contínuo que a sociedade demanda.

E hoje, 15 de outubro, é dia de cada um que escolheu fazer da sala de aula sua vocação de vida. Neste Dia dos Professores contamos a história da família Lechner, que possuí uma sucessão de quatro gerações que decidiram que sua missão seria lecionar.

A inspiração do avô Egídio

Egídio Luiz Hanauer teve seu legado de professor perpetuado pela família (FOTO: arquivo pessoal)

Tudo começou através do bisavô da família, seu Egídio Luiz Hanauer, que faleceu há dois anos já aos 94 anos. Estudando a vida inteira, ele passou a dar aula com 18 anos quando saiu do seminário em Cerro Largo.

Foi um entusiasta da educação naquela região, sempre buscando se aperfeiçoar e evoluir junto às comunidades, utilizando suas particularidades para o ensino na sala de aula.

Em Santa Rosa foi responsável por transformar a escola local em estadual, sendo o primeiro diretor da instituição. Aos 50 anos se formou na área matemática, atuando até os 60, concluindo sua carreira em Campinas das Missões.

Como professor se dedicava às pessoas. Muitos o procuravam até mesmo quando estavam doentes e, com o conhecimento que tinha, os ajudava até onde podia.

E sua paixão pela educação, pelas pessoas, não passou desapercebida. Dos 12 filhos que teve com Gisela Hanauer, cinco seguiram a carreira de professor.

Crescendo e vivendo dentro da escola

Uma das que seguiram os passos do pai é Angelina Teonila Lechner, 65 anos, que mora em Herval há mais de quatro décadas. “Nasci e cresci dentro da escola”, conta, explicando que na época a casa da família era anexa à escola, onde viam seu pai sempre em função das aulas, estudando e preparando conteúdo, junto à mãe que lhes deu educação religiosa.

Por isso, apesar de receber diversas propostas, nunca pensou em ter outra carreira a não ser a do magistério. Inspirada por seu pai, começou seu curso em Santa Rosa e terminou no Colégio Santa Catarina, em Novo Hamburgo.

Em Herval atuou em todos os setores, sendo inclusive secretária de Educação no último ano do primeiro mandado após a emancipação. Deu aulas para o EJA, MOVA; atuou das séries iniciais às finais com artes, português, geografia, história e outras matérias. Também foi secretária e diretora de escolas e bibliotecária.

Além do magistério iniciou algumas faculdades, mas nunca às concluiu. Viveu várias experiências na educação, sendo a maioria, fundamentalmente, nas salas de aula.

Conta que do seu pai teve muitos exemplos, mas destaca o da leitura. “Sempre tínhamos livros. E o pai e a mãe nos davam muita liberdade de pensamento, de como agir, de como fazer. Isso foi muito importante”.

Angelina se aposentou há 10 anos e conta que sente falta. “Deito de noite, penso nas minhas aulas, nos meus alunos, nas coisas que poderia talvez ter feito mais. Sinto muitas saudades”.

Por ela passaram centenas de moradores de Herval. “Quando ando na rua fico muito feliz quando dizem: ela foi minha professora”.

Os filhos seguiram os passos da mãe

Angelina teve quatro filhos. Todos cresceram vendo a mãe sentada na mesa vermelha da casa na qual preparava os materiais das aulas e corrigia os temas.

Aos seus filhos deixou o mesmo legado do pai: livros. Aprenderam o gosto pela leitura desde cedo, fomentando a imaginação através do que cada um escolheu seu próprio caminho, mas seguindo o mesmo exemplo de viver para ensinar.

Hoje, todos são formados, cada qual em uma área diferente. Cristiano, 42 anos, em Geografia; Juliano, 41 anos, em História; Paula, 40 anos, em Pedagogia e Carol, 37 anos, em Educação Física.

O trem do avô

Com orgulho, atribuem ao exemplo que tiveram de Angelina sua escolha em continuar mantendo o legado da família, levando isso para as futuras gerações.

Também lembram com carinho do avô Egídio. “Éramos crianças, uns seis anos, e íamos visitá-lo. Ele contava suas histórias de quando viajava de trem para fins de estudo. Os netos sentavam ao redor, batiam com as mãozinhas sobre as pernas e ele fazia barulho com os pés, imitando a locomotiva”, lembrou Paula, emocionada, que se formou em pedagogia e reitera que usa esse exemplo com as crianças, ensinando através do lúdico.

“Na minha casa eu tinha uma escola”

Pâmela Haubert tem 21 anos e é filha de Paula, neta de Angelina, bisneta de Egídio. Conta que nunca cogitou ser professora na infância, mas, com a proximidade da família de professores logo optou por cursar Pedagogia ao sair do ensino médio e já é formada. “Na minha casa eu tinha uma escola, minha avó, tios, mãe, sempre convivi com isso”. Lembra que todos sempre a ajudavam caso tivesse alguma dificuldade.

A jovem garante que fez a escolha certa para sua vida. “Hoje, entrar numa sala de aula é muito gratificante”.

O poder da leitura

Angelina, assim como os filhos e neta, sentem orgulho em dizer que são professores. A matriarca da família pontua, falando por todos, da importância da leitura. “O maior problema do mundo é a falta de leitura. Professores deveriam ter mais tempo para ler. Um grande caminho para conseguirmos uma mudança é pela leitura”.

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