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DIÁRIO RURAL: Plantio de lúpulo tem sido a aposta de casal agricultor

03/02/2021 - 09h15min

São José do Hortêncio – Há exatos dois anos, José Fernando Cruz e Barbara Inajá Eckert saíram de São Paulo para construir uma vida um pouco diferente do que estavam acostumados. Gaúchos, com desejo de retornar ao Estado, ainda em território paulista, eles passaram a pesquisar sobre agricultura familiar, até encontrarem um cultivo que os interessava: o de lúpulo.

Natural de São José do Hortêncio e com tradição familiar na área da agricultura, Bárbara possuía, como herança, mais de dois hectares de terra no município, que se encontravam praticamente em desuso. Por conta disto, como forma de voltar a praticar o serviço a qual sua avó e seu tio se dedicaram por anos, o casal resolveu voltar para casa e iniciar um cotidiano na lavoura.

Assim, desde o início com o intuito de “fugir do convencional” e cultivar alguma planta que se destacasse por ser diferenciada, depois de muitos estudos – e dúvidas – sobre o assunto, eles seguiram adiante com a ideia de preencher o espaço de suas terras com mudas de lúpulo, a planta de “alto potencial futuro”.

José comenta que levando em conta, principalmente, a região onde plantariam, perceberam, conforme as informações que apuraram, que o lúpulo poderia trazer retornos muito positivos a longo prazo.

“Até porque é também uma região que faz parte da Rota Cervejeira, e nós estamos ao lado do município que é considerado o Berço da Cerveja Artesanal, Linha Nova, estando assim, rodeados de cervejarias e micro cervejeiros”.

Lúpulo

Desta forma, nasceu o “Lúpulo do Vale da Felicidade”. Em suas terras no Campestre, eles se tornaram mais um dos poucos produtores de lúpulo do Estado – que, por sua vez, é considerado o maior polo cervejeiro de todo o País. Como aponta José, até o momento, ele não conhece nenhum outro agricultor da região que cultive a planta. Os produtores de lúpulo mais próximo que têm conhecimento são de Gramado e São Francisco de Paula.

Atualmente, com cerca de 200 pés plantados, o objetivo do casal é preparar o solo para que a produção possa ser duplicada em 2021. A variedade que costumam cultivar – e que também já têm comercializado – é a Cascade, mas já há quatro outras matrizes que estão passando por período de teste em sua plantação: a Brewers Gold, a Saaz, a Chinook e a Comet.

Com o período de safra prestes a começar – tendo início em meados de fevereiro e, dependendo da região do plantio, se estendendo do final de março até o início de abril –, o produtor rural comenta que uma das qualidades da produção fica por conta do seu tipo de cultivo. Por ser uma cultura perene, as mudas não precisam ser replantadas a cada safra. Assim, se houver o manejo adequado, a mesma muda pode ser produtiva por mais de 30 anos.

No entanto, para um bom cultivo da trepadeira, que tem como uma de suas principais características conceder aroma e amargor à cerveja, além de auxiliar na conservação, José ressalta que é preciso tomar uma série de cuidados para que o solo seja mantido em boas condições e que, assim, a planta se desenvolva corretamente.

Cuidados

“Assim como para qualquer outra cultura, para o plantio de lúpulo também é essencial a análise do solo para a correção do que for necessário”, afirma o agricultor.

O lúpulo é exigente na questão de matéria orgânica e, por isso, é importante utilizar uma adubação que seja orgânica e verde, além de realizar um rigoroso controle do pH e do equilíbrio entre macro e micronutrientes. Enquanto se desenvolve, contudo, José aponta que é necessário atenção redobrada com a irrigação e com o controle de pragas e doenças, por exemplo.

“É necessário também fazer uma cobertura de solo para a manutenção da temperatura e umidade, que é um fator importantíssimo para o sistema radicular da planta”, diz José, mencionando ainda que, depois da colheita, é necessário realizar o processo de secagem e desidratação das flores, bem como o processo de embalagem, para garantir a conservação das propriedades do produto.

Além de lúpulo, eles também possuem um pequeno pomar de limão. “É uma cultura totalmente diferente da outra”. Já com quatro anos de existência, José diz que, apesar de também exigir cuidados, o manejo do pomar costuma ser bem mais simples do que o de lúpulo.

“O limão traz bom retorno financeiro, mas o lúpulo em escala comercial futuramente será uma das culturas de maior retorno, visto que temos procura pelo produto e a oferta em sua maioria, cerca de 99% é importado”.

Comercialização

Apesar de, devido a suas propriedades antibacterianas e a contribuição que oferece no controle da ansiedade, o lúpulo ser bastante utilizado pela indústria farmacêutica e cosmética, a planta segue sendo popularmente conhecida por sua utilização na gastronomia – mais especificamente, na produção artesanal de cervejas.

O Lúpulo do Vale da Felicidade, como conta o casal, é vendido unicamente para micro cervejeiros e para cervejarias artesanais. Apesar disto, José e Barbara ainda não se aventuraram na produção de uma cerveja própria, mas garantem que seus clientes têm obtido “excelentes resultados” com os cultivados por eles.

“No momento, nós estamos focados na produção do lúpulo e na oferta dessa matéria-prima para os cervejeiros”.

Quanto ao retorno que a produção tem lhes dado, José lembra que todo projeto inicialmente prevê investimentos e afirma que ainda estão em período de desenvolvimento e de ajustes para uma possível extensão do negócio. No entanto, a cultura do lúpulo, como volta a dizer, “é de boas perspectivas financeiras futuras”.

“É uma cultura diferenciada das demais e típica de nossa região. Isso nos traz muita satisfação em cultivar, além de, claro, podermos apreciar uma boa cerveja artesanal, de qualidade, e produzida com nosso lúpulo”.

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