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Fábrica de Dois Irmãos encerrou as atividades devido ao mercado interno travado
Por Cleiton Zimer
Dois Irmãos – Ao chegarem para trabalhar no início da manhã de segunda-feira, 26, os 144 funcionários da GS Calçados do bairro Industrial receberam a notícia de que a empresa tinha fechado as portas. A informação foi confirmada pelo diretor do Sindicato dos Sapateiros de Dois Irmãos, Romeo Schneider. De acordo com ele, integrantes do Grupo Arezzo e da GS Calçados pediram uma reunião com o Sindicato já na tarde de sexta-feira, na qual apresentaram o atual cenário. “Houve várias conversações para ver se teria outra alternativa, mas não se chegou a nenhuma conclusão a não ser o fechamento”.
A GS produzia para o grupo Arezzo de Campo Bom, uma marca que atua com o mercado interno, sendo uma das mais fortes da região direcionando demandas para diversas outras empresas, gerando emprego e renda. Romeo conta que a Arezzo está com dificuldades devido à estagnação do mercado interno decorrente da pandemia, o que trava os principais polos comerciais em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, que compram os produtos emergentes da produção do sul e diversas outras partes do País. “Ela estava com dificuldades de produção na própria unidade em Campo Bom. Para não tirar de lá, começaram a fechar as terceirizadas”.
De acordo com Romeo, a GS era uma empresa que entregava o sapato pronto para a Arezzo, tendo todas as linhas de produção desde o corte até a montagem; ela ainda fornecia serviço para um atelier do bairro São João com cerca de 25 funcionários, entretanto, até o momento, o Sindicato não foi procurado e dessa forma não se sabe como ficou a situação da terceirizada.
DIREITOS TRABALHISTAS
Na tarde de ontem Romeo esteve reunido com os funcionários da empresa para encaminhar as procurações. “Entraremos com uma ação na Justiça do Trabalho para cobrar os direitos dos trabalhadores. Estão em tratativa para fazer o acerto”. A reportagem buscou contato com a GS e a Arezzo, mas, até o momento, não obteve retorno.
O FIM EM LÁGRIMAS
Rosa Nunes de Oliveira trabalhava na empresa há três anos. Ela conta que, diante do anúncio de que as atividades estariam encerradas a partir daquele momento, a dona da fábrica, assim como os funcionários, caíram em lágrimas. “Era bom de trabalhar lá. Começou a complicar com a chegada da pandemia. Em anos bons, tínhamos festas muito lindas oferecidas pela empresa a seus funcionários. Antes da pandemia, tínhamos nossos salários em dia. Depois, começaram as complicações financeiras e por fim o fechamento”.
Rosa diz que a GS era uma empresa pequena e que o impacto da pandemia foi muito grande. “O sindicato está fazendo todo o possível, juntamente com a empresa, para que possamos receber nossos direitos sem muito prejuízo”, afirmou, se dizendo preocupada financeiramente, destacando que o cenário atual não é de boas expectativas.
SURPRESA E PREOCUPAÇÃO
O prefeito Jerri Meneghetti (PP) disse que recebeu a notícia com surpresa e preocupação. “Lamentamos que uma empresa como esta, já consolidada e tradicional no seu segmento, tenha que encerrar suas atividades assim de forma abrupta”.
Jerri afirma que o impacto do encerramento destes 135 empregos que deixam de existir representam uma perda temporária da circulação de um valor importante na economia local. “Mas temos otimismo de que a recuperação deverá ocorrer também nos próximos meses, com a absorção desta mão de obra no mercado de trabalho”.
O prefeito comenta que Dois Irmãos tem realizado diversas ações para estimular a ampliação dos empreendimentos locais e também para atrair novos empreendimentos para agregar economia. “Torcemos para que a economia nacional possa reagir rapidamente e proporcionar um cenário favorável para investimentos no Brasil, pois assim nossos empreendedores locais terão as condições necessárias para crescer”.
Cenário difícil para o mercado interno
Romeo avalia que, nesse momento, quem está trabalhando com exportação possuí um bom fluxo de pedidos. Entretanto, o mesmo não acontece para quem atua no mercado interno que, mais uma vez, se vê diante das incertezas em decorrência das restrições adotadas durante a pandemia. Assim como a GS, que encerrou as atividades, outras empresas calçadistas que atuam com o mercado nacional em Dois Irmãos estão sentindo o entrave das restrições que não permitem o giro da economia. O diretor comentou que uma outra empresa de grande porte está dando férias e inserindo seus colaboradores na medida provisória como última alternativa.
De um auge de quase 10 mil para 3 mil colaboradores
No auge da produtividade, Dois Irmãos e Morro Reuter somavam, juntos, 9.400 funcionários. Com os anos foi diminuindo, mas, mesmo assim, a categoria andava a pleno vapor entre 5 e 6 mil funcionários. Com a pandemia, esse número despencou. “Hoje estamos com 3.100 colaboradores no setor calçadista”, avalia Romeo.