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Fraude na Saúde: entenda o esquema da clínica de Estância Velha alvo de investigação

21/05/2019 - 15h11min

Atualizada em 22/05/2019 - 14h10min

Estância Velha – Para entender como funcionava a Clínica Previne, empresa investigada pela Polícia Civil, entre outras coisas por cobrar por exames que sequer eram realizados, só é possível montando um organograma. Embora o dono da empresa no papel seja do município de Mostardas, há, pelo menos, outros dois “sócios” no negócio, que foi arquitetado às pressas, assim que a Prefeitura decidiu romper o contrato com o Instituto e Saúde Vida (Isev).

O grupo de empresários ligados a área da Saúde, com a conivência de gestores públicos, montou um verdadeiro esquemão para assumir o setor de  exames de imagem (raio-x, ecografia, mamografia) na Secretaria de Saúde do município. A fraude veio à tona na última terça-feira, quando a Delegacia de Crimes Contra a Administração Pública, do Departamento de Investigações Criminais (Deic), desencadeou a Operação Anamnese, que resultou na prisão temporária de oito pessoas e no cumprimento de dez mandados de busca e apreensão.

Na oportunidade, foram cumpridos mandados de busca na Prefeitura, na Secretaria de Saúde, na sede da Previne, e na casa dos investigados, sem seis municípios do Estado. Entre os presos figuraram três ex-secretários de Saúde do município: Mauri Martinelli (licenciado), Eloise Gernhardt (interina) e Ana Paula Gularte Macedo.

Ao longo da semana, o Diário irá mostrar como funcionava o esquema e trará detalhes não divulgados pela Polícia Civil.

QUEM É QUEM

O grupo se instalou na Saúde de Estância Velha em meados de março de 2017, quando a administração rompeu o contrato com o Isev, que administrava o Hospital Getúlio Vargas e era responsável por fazer os exames. A partir da intervenção, a Prefeitura de Estância Velha terceirizou praticamente todos os serviços do hospital, como serviço de copa e cozinha, lavanderia, equipe médica e de exames.

Foi, então, que surgiu a Previne Saúde. A empresa familiar, com sede no município de Mostardas, é de Josué Araújo Brum. Entretanto, Josué raras vezes apareceu em Estância Velha para tratar dos negócios da Previne. O empresário é apenas um laranja (cedeu o CNPJ) no esquema montado pelo técnico em radiologia Vladimir Warnava, hamburguense que mora em São Leopoldo. Warnava é o real operador da fraude, com o suporte de outras pessoas. Ele pediu o CNPJ da Previne emprestado à Josué, pois seu nome e sua empresa, a Clincenter, estão sujos na praça, o que lhe impediria de assinar contratos com a administração pública.

Foi o operador do esquema quem chamou para o negócio o casal Márcia da Silva Schell e Luiz Amarildo Aguiar, que possuem conhecimento no ramo, sendo, inclusive, donos de duas empresas, a Clinisul e a Radpel. Quando veio para o Vale do Sinos, oriundo de Pelotas, o casal primeiro morou em um apartamento no Centro de Estância Velha, mas depois foi morar no bairro Lomba Grande, em Novo Hamburgo, em uma casa emprestada por Vladimir.

GERENTES

Enquanto Vladimir e Luiz planejavam a manutenção do esquema, com conchavos e troca de favores, a parte administrativa da Previne Saúde era tocada por Márcia e, inicialmente, pelo administrador de empresas Gabriel Scalcon. No início da clínica em Estância Velha, Scalcon era o gerente do negócio e quem realizava as cobranças. Eram quem também fazia contatos com gestores públicos constantemente.

Natural de São Borja, mas morando em Novo Hamburgo, o gerente permaneceu no cargo até o final do ano passado. No seu lugar, surgiu o nome de Cassiano Sanagiotto, vindo da cidade de Santa Rosa, no noroeste do Estado, e que atualmente está morando em Novo Hamburgo. Sanagiotto acabou se tornando genro de Vladimir Warnava.

Mesmo depois que Luiz e Márcia passaram a morar na Lomba Grande, Correios seguiu mandando correspondências a Vladimir (FOTO: ISAÍAS RHEINHEIMER)

Polícia investiga pagamento de propina

A Polícia Civil sabe que Eloise Gernhardt, que era assessora executiva na Secretaria de Saúde nas gestões de Ana Paula Gularte Macedo e Mauri Martinelli, era o elo entre os gestores públicos e a cúpula da Previne Saúde. A investigação, agora, tem a pretensão de elucidar, com maior clareza, essa relação entre os políticos e os empresários.

Conforme o delegado Max Otto Ritter, que comanda a investigação da fraude na Saúde, existe a suspeita de haver pagamento de propina por parte da Previne à pessoas ligadas à classe política. O delegado não especifica quem são essas pessoas, tampouco ventila os valores envolvidos na negociata. A investigação também apurou que, por interferência dos gestores da Saúde, a Previne tinha prioridade para receber da Prefeitura os pagamentos dos supostos serviços prestados.

A Previne sempre foi a primeira prestadora de serviços na área da Saúde a receber os pagamentos. Quando a Prefeitura tinha dificuldades financeiras, sempre se arrumava jeito de alcançar os valores à clínica. Quando isso não era possível, o primeiro sinal de dinheiro em caixa era reservado para quitar a dívida com a Previne.  

Gabriel Scalcon foi flagrado almoçando com Eloise, então assessora da Secretaria de Saúde, no dia 5 de outubro de 2018

Novos velhos donos

Neste ano, em meados de março, um desacerto entre os membros do esquemão pós fim, pelo menos, de maneira aparente, a relação entre Vladimir Warnava, Luiz Aguiar e companhia. Mesmo com a saída de Warnava e do genro, a Previne seguiu no município com Aguiar.

Luiz Aguiar teve que devolver a casa onde morava na Lomba Grande a Vladimir Warnava. Além de ter que procurar uma nova casa, Aguiar também foi atrás de um novo sócio, com quem toca a Previne atualmente.

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