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Há 55 anos a chegada dos imigrantes deu início à Colônia Japonesa

20/12/2021 - 12h42min

História dos 55 anos da Colônia Japonesa expostos no Memorial

Uma parte da história de Ivoti e sua parte nipônica

 

Por Leila Ermel

 

Ivoti – A vinda dos japoneses para Ivoti marca uma trajetória de acolhimento, de troca de experiências, de junção de culturas e muitas conquistas para o município. O surgimento da Colônia Japonesa trouxe toda uma visibilidade, um núcleo de incentivo e valorização da cultura, do hortifrúti, das memórias e culturas expostas no Memorial e na história preservada e exposta nos livros lançados pela SIEHU.
A data oficial de comemoração desta criação da Colônia Japonesa é 20 de dezembro, Portanto, em 2021 se comemora 55 anos deste fato histórico que muito marca a trajetória do povo japonês, de seus descendentes e de toda a comunidade de Ivoti, que hoje e sempre é integrada e orgulhosa por ter em sua comunidade este tão significativo núcleo, um pedaço importante do Japão, criado em terras ivotienses.

 

Memorial da Colônia Japonesa é um dos principais destaques do núcleo em Ivoti (Créditos: Leila Ermel)

Primeira família vinda à Ivoti

A existência do grupo SIEHU – Sociedade Ivotiense de Estudos Humanísticos enche de positividade as famílias e pessoas envolvidas nas ações e na vivência junto a Colônia Japonesa, por se tratar de uma entidade de cunho histórico, principalmente disponibilizando para o público infanto-juvenil, que escolheu para o lançamento do segundo livro “Um olhar colorido sobre Ivoti: história, cultura e arte da Colônia Japonesa”, onde registra e reconhece a história da colônia japonesa em Ivoti.
A presença nipônica em Ivoti, em meio à colonização originalmente alemã foi muito bem aceita. Houve solidariedade, acolhimento e ajuda. Final do ano de 1966, a família de Toyohiko e Masako Sasada foi morar na recém criada cidade. E lembrando bem da história dos pais, a filha Naoko Sasada, deixa um depoimento marcante sobre o início da Colônia Japonesa:
“Eu fiz 15 anos assim que me mudei para Ivoti. Lembro que meu irmão pequeno tinha que atravessar um rio para ir à escola, mas a prefeitura construiu duas pontes. A maioria de nós não tinha direito ao voto, portanto, não havia interesse político em nos favorecer. Não era um espírito segregacionista ou xenófobo, mas sim de integração, colaboração e união para caminharmos rumo ao desenvolvimento e à abundância.
Lembro da presença de prefeitos e governadores em eventos da colônia. Também instituições japonesas como JAMIC (Japan Migration and Colonization), e JICA (Japan International Cooperation Agency) contribuíram para o desenvolvimento de Ivoti. Os costumes japoneses e alemães compartilham de valores e princípios comuns em suas culturas: retidão, disciplina, primor, impecabilidade, e uma postura de viver para o trabalho. A religiosidade Cristã e Budista/xintoísta podem ser diferentes, mas isto não foi uma barreira. A língua foi um grande desafio certamente, transposto pelo desejo atender às necessidades das comunidades.

Com o tempo, houveram casamentos, projetos, sociedades, e naturalmente o convívio harmônico gerou o desenvolvimento desta comunidade de alta qualidade de vida que é Ivoti.
Meus pais, Toyohiko e Masako Sasada tinham o humanitarismo como o valor que norteou suas grandes decisões de vida. Se preocupavam com a partilha de excedente de produção, com a lógica do coletivo e da cooperação, e tentavam garantir que houvesse sempre materiais de estudos para que os jovens da colônia pudessem se desenvolver.
Meus pais dedicaram a vida à fundação e desenvolvimento desta colônia, onde viveram até o fim. Tudo o que eles queriam, é que a colônia florescesse e gerasse bons frutos, proporcionando aos que lá viveram uma vida de realização e prosperidade.
Meu irmão e eu não seguimos a agricultura. Me mudei para o Rio de Janeiro, onde exerci o trabalho de Guia de Turismo especializado na recepção de japoneses. Meus netos estiveram na Rua Sasada para ver a terra que meus pais cultivaram por tantos anos, na saudosa Ivoti”, conclui. Atualmente, Naoko mora no Rio de Janeiro.

 

A história das famílias que fizeram a Colônia Japonesa surgir e se manter nesta fortaleza está exposta do Memorial (Créditos: Leila Ermel)

 

Histórias, vidas e legado

São muitos que já passaram, que fizeram parte da criação deste importante espaço de Ivoti, muita as famílias que são responsáveis pela riqueza histórica e cultural nestes 55 anos da Colônia Japonesa. Infelizmente, as feiras e eventos estão ainda suspenso em virtude dos cuidados com a pandemia. Porém a visitação ao Memorial e o acesso aos livros relacionados ao surgimento da Colônia Japonesa seguem disponíveis.

 

 

 

O livro recentemente lançado pela SIEHU resgata esta história e foi lançado em Ivoti (Crédito: Leila Ermel)

Vinda para o Brasil representava esperança de tempos melhores

Por June Krüger

 

O final de semana marcou o fim da gestão do agricultor Yoshimichi Kubo, 80 anos, como presidente da Associação Cultural e Esportiva Nipo Brasileira de Ivoti – ACENB. Morador da Colônia Japonesa desde 1971, ele conta que veio para o Brasil em 1961, sozinho, aos 19 anos, inicialmente para Viamão, onde conheceu a esposa, Teruyo Kubo, que veo de Nagazaki com a família. No Brasil o casal teve três filhos: Teruyo, Saori e Yoshio. Atualmente, kubo dedica-se ao cultivo de acácia-mimosa entre outras plantas ornamentais que comercializa com floristas da região.
Ele encerra sua gestão como liderança da Colônia Japonesa, lamentando que não foi possível, nos últimos dois anos, realizar as atividades tradicionais, como as feiras coloniais, entre outras. A expectativa é de que as atividades sejam retomadas a partir de 2022, mas não há ainda qualquer definição. “Nos últimos anos não deu pra fazer quase nada, as pessoas estão esperando que reabram as atividades”, aponta o casal.
“O começo foi muito difícil”, diz Kubo e a esposa que encontraram no cultivo de uvas uma forma de subsistência. Contam que pouco sabiam sobre a produção de uvas, porque até então trabalhavam em Viamão plantando tomate. Exatamente no dia em que receberam o Diário para contar sobre a vinda do Japão para o Brasil, a esposa de Kubo, Teruyo completou 60 anos no Brasil, o que ela comemorou com um enorme sorriso.

”Somos muito felizes aqui”

Teruyo fala português com mais facilidade que o marido. Conta que seus pais sonhavam em morar no exterior quando estavam no Japão. Recorda que logo após a guerra havia muita pobreza e carência de terra e de trabalho. Ao mesmo tempo, haviam propagandas chamando para morar no Brasil. Na esperança de uma vida melhor, eles optaram por deixar a terra natal.
No Japão, Kubo estudou na Escola técnica de agricultura com o professor Sasada, um dos primeiros a chegar na Colônia Japonesa. Foi na propriedade de Sasada, no Brasil, que eles se conheceram e nunca mais se separaram. Kubo já viajou três vezes ao Japão desde que vive no Brasil. A esposa foi visitar os familiares apenas uma vez. Até pouco tempo, trocavam cartas com a família no Japão e uma vez que outro um telefonema. A chegada da Internet não facilitou a comunicação entre a família, já que nem todos dominam a tecnologia.
Ambos dizem que foram muito bem recebidos em Ivoti e como respondiam para o pai de Teruyo quando ele questionava se eram felizes no Brasil, eles respondem: “somos muito felizes aqui”.

 

 

Yoshimichi Kubo, presidente da Associação Cultural e Esportiva Nipo Brasileira de Ivoti – ACENB na gestão 2021 (Créditos: June Krueger)

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