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Incertezas e reclamações: a dura vida de 60 famílias que vivem na Avenida Perimetral

18/02/2020 - 09h22min

Atualizada em 18/02/2020 - 10h36min

Má qualidade da água, troca de serviços básicos e um futuro incerto. Moradores vivem de modo irregular e aguardam soluções (Créd. Alex Günter)

Região – Uma situação que se estende por décadas e que segue sem previsão de resolução. Em uma área da Avenida Perimetral, divisa entre Ivoti e Estância Velha, residem 60 famílias em um assentamento considerado irregular pelo Poder Público de ambos os municípios. Em razão da indefinição jurídica do logradouro, os moradores passam por situações delicadas quanto a infraestrutura e serviços básicos.

Ao longo dos anos de imbróglio jurídico, os residentes tiveram acesso à Educação e Saúde de Ivoti, mas este benefício foi cortado recentemente para que Estância Velha provenha os serviços, já que a área está dentro de seus limites territoriais. A decisão contrariou os moradores.

A moradora, e uma das vozes de liderança da comunidade, Bruna de Oliveira, ressalta que todas as contas que os moradores recebem estão com o logradouro de Ivoti. “Não temos nenhum comprovante de Estância Velha. Tudo que consumimos vem de Ivoti. Não descemos para Estância para nada”, afirma, enquanto mostra uma conta da RGE que consta o endereço como sendo de Ivoti.

Serviços básicos alterados

E não é somente o consumo da localidade que estava ligado o município ivotiense. Segundo os moradores, até novembro do ano passado eles tinham acesso ao atendimento na área da Saúde e da Educação. Os residentes garantem que este cenário mudou quando agentes da Prefeitura estanciense visitaram as casas para informar que novos cadastros deveriam ser feitos. “Nos disseram que o nosso Bolsa Família e o cartão SUS seriam cancelados, caso não fizéssemos a transferência dos documentos para Estância Velha. Nós confeccionamos estes documentos em Ivoti, porque o nosso endereço consta como Ivoti”, avaliou Bruna.

Poços sem proteção e à mercê de impurezas: água do local é considerada imprópria (Créd. Alex Günther)

Outro ponto delicado se refere a rede de água e saneamento básico. Pela falta de definição sobre o papel do Poder Público na localidade, os próprios moradores abriram poços artesianos para obterem água nas casas. Acontece que as instalações foram feitas de forma rudimentar, e não oferecem segurança quanto a qualidade da água que chega às torneiras. “No verão os poços secam no início da tarde. De qualquer forma as águas estão contaminadas, porque aqui circula animais, então a chuva acaba levando fezes e urina para os poços”, relata a moradora.

A água é considerada, neste momento, o principal problema vivido pela comunidade. “Tem crianças doentes aqui por causa do consumo. Hoje mesmo dei somente pão de almoço para meus filhos, porque não posso usar esta água nem para cozinhar”, aponta.

Problema com as crianças

E por fim, outro transtorno enfrentado está relacionado às crianças da localidade, que até o final do ano passado frequentavam as escolas de Ivoti, em especial a Aroni Mossmann, há cerca de duas quadras das casas. Segundo eles, na mesma oportunidade em que os agentes de Estância Velha informaram sobre a alteração nos documentos do Bolsa Família e Cartão SUS, foi revelado que a partir de 2020, os alunos teriam que realizar a matrícula em escolas do município.

A decisão, novamente, causou revolta. “Por que aceitaram as crianças nas escolas de Ivoti antes e agora não? Tenho filhas que frequentaram a Aroni há anos. Quando estavam aqui, tínhamos a possibilidade de dar uma assistência, caso ocorresse algo”. Bruna considera que alteração de local deixou os pais em estado de alerta. “Colocaram nossas crianças em escolas longe, em locais que a gente nem conhece. O transporte não vem até aqui, temos que levá-los até a Vila Seca, numa via que sequer tem calçada. É um perigo constante, porque crianças são difíceis de controlar e os carros passam muito próximos”, finaliza a moradora.

 

Na conta da RGE consta o endereço como sendo de Ivoti (Créd. Alex Günther)

“Não é nossa obrigação”

Para entender as recentes alterações que os moradores alegam, o prefeito de Ivoti, Martin Kalkmann, foi procurado para explicar a situação que envolve a comunidade. O prefeito ressalta que todas as movimentações relacionadas à área da Avenida Perimetral também foram providenciadas para outros locais, que não pertencem ao perímetro de Ivoti, mas que faziam uso dos serviços prestados no município. “Trata-se de uma irregularidade e passamos a monitorar. Eu nem deveria estar comentando sobre esta situação, pois aquela área não pertence a Ivoti”, afirmou Martin.

De acordo com ele, em parceria com o Ministério Público, a Prefeitura procurou a Administração estanciense para que o município intercedesse junto aos moradores. “Inclusive a RGE está equivocada na cobrança de suas tarifas quando o fazem como sendo uma área de Ivoti. E não somente a Perimetral, há outros endereços que constam como Ivoti e não o são. Tanto que o nosso referencial de comprovantes é o da água, em razão destas falhas”, finaliza.

“Estamos nos atualizando da situação agora”

A secretaria de Administração de Estância Velha, Marly Arigony, ressalta que o tema relacionado a Avenida Perimetral foi o principal assunto debatido no último encontro do grupo de ações da Prefeitura, onde além de membros do Executivo também participam representantes da Brigada Militar, Guarda Municipal e Corsan. “A principal questão debatida esteve relacionada à água. Nos preocupa muito a situação. Certamente daremos uma atenção ao assunto sim”, aponta.

A secretária informa que ao final de 2018 a Administração foi procurada por Ivoti para ajustar as questões relacionadas aos serviços públicos. “Assim que o prefeito Martin nos contatou, passamos a ter um outro olhar para o local. Estamos há, no máximo, dois anos tendo contato com a localidade e percebendo a situação. Não tínhamos a preocupação que temos agora, porque os moradores vinham sendo assistidos por Ivoti”, reflete Arigony.

A secretária pede paciência para a resolução dos problemas, lembrando que nem tudo está resolvido na Avenida Perimetral, assim como nas demais partes do município. “Com relação às crianças fizemos a relocação, o que aumentou em 100% a nossa demanda escolar, mas ainda sim demos conta. Colocamos transporte escolar à disposição, há 700 metros da localidade. Não podemos ir até a vila, porque não há a obrigação de buscar em casa, não fazemos isso por nenhum aluno”, aponta.

Marly descarta que a comunidade esteja totalmente desassistida do Poder Público de Estância. “Já temos várias demandas em andamento na localidade. Semanalmente, por exemplo, vamos até o local com o programa Primeira Infância Melhor (PIM), trabalhando junto às famílias questões socioeconômicas”, destacou.

Poços foram construídos pelos próprios moradores (Créd. Alex Günther)

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