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Nova Petrópolis: Justiça investiga usuários que proferiram discurso nazista em WhatsApp

03/05/2021 - 16h52min

Atualizada em 03/05/2021 - 20h24min

Mensagens compartilhadas no grupo (Créd.: Reprodução)

Nova Petrópolis – A Polícia Civil, por meio do delegado Camilo Pereira Cardoso, apreendeu celulares de dois homens, moradores do município, para investigar a divulgação de discursos nazistas em um grupo de WhatsApp. Após a investigação, o delegado encaminhou o processo ao Fórum, que deve analisar as mensagens. O caso é tratado como crime de racismo, por enaltecer o nazismo e fazer piadas com judeus e negros.

O Diário teve acesso às imagens do grupo em questão onde mensagens foram compartilhadas na metade do mês de março, a partir do dia 13. O gatilho para que os simpatizantes do nazismo começassem com as falas foi a frase “Arbeit macht frei”, que significa “o trabalho liberta”, dita por Doris Neumann no dia 10 de março, em frente ao Palácio Piratini, em Porto Alegre. A expressão era usada por nazistas na Segunda Guerra Mundial e pode ser vista até hoje nos portões dos campos de extermínio de judeus, inclusive em Auschwitz, onde estima-se que mais de 1,1 milhão de judeus foram mortos. Avisamos que o que será descrito em seguida pode ser sensível a algumas pessoas.

Durante os dias 13 e 15 de março, o grupo contava com mais de 20 usuários e era chamado de “Dollynês”. Uma mensagem enviada às 10h12 de sábado, 13 de março, mostrava uma figurinha/montagem de um ato sexual entre Adolf Hitler e a ex-vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, assassinada em 2018. Logo em seguida, um outro usuário responde com mais uma figurinha que mostra um personagem com vestes militares e uma suástica no braço, e a frase: “cadê meus amigos NAZISTAS online para me dar um Guten Morgen (bom dia)”.

“Cara, eu tenho sangue nas minhas veias, que talvez correu perto da família de Hitler. Eu tinha um tio-avô que comandava um campo de concentração”

Completando esta figurinha, o usuário escreveu: “e para não esquecer, #freedoris (Doris livre). Pela livre expressão de ser nazista em público”. Como resposta, o primeiro usuário envia uma nova figurinha, onde mostra uma personagem de desenhos japoneses sorrindo, com uma suástica no braço. Um terceiro usuário também entra na conversa e envia outra figurinha nazista, onde mostra o personagem Pato Donald, também vestido como um soldado alemão com suástica, lendo o “Mein Kampf”, livro escrito por Hitler onde expõe suas ideias nazistas. Em muitos países, a venda deste livro é proibida.

“Sangue de Hitler”

As mensagens continuam com mais figurinhas exaltando o nazismo e fazendo piadas com a situação. Mais tarde, o mesmo usuário envia um áudio com os seguintes dizeres: “cara, tu realmente acha que eu sou descendente de judeu, velho? Descendente de judeu? Não, pu** mer** cara. Cara, eu tenho sangue nas minhas veias, que talvez correu perto da família de Hitler. Eu tinha um tio-avô que comandava um campo de concentração. Família minha nenhuma estava dentro de um campo sendo morto”. O áudio é respondido com aplausos pelos outros dois integrantes que participavam da conversa.

O assunto segue com mais deboche e figurinhas nazistas. Alguns integrantes do grupo chegam a reclamar, mas são repreendidos. Em outro áudio, o mesmo usuário de antes diz: “o dia que alguém mandar eu fazer alguma coisa, essa é uma pessoa morta”. Um dos participantes questiona se este usuário, que tem 22 anos, já matou os próprios pais, e tem como resposta “nem eles se atrevem”.

Investigação

A história chegou à Polícia Civil por meio de uma denúncia anônima. Com os prints das conversas em mãos, o delegado Cardoso pediu quebra de sigilo à justiça para que pudesse ter acesso aos celulares dos envolvidos. Com a autorização concedida, os policiais foram com mandados às casas dos dois principais envolvidos e recolheram os aparelhos de ambos. Uma revista também foi feita na residência de cada um em busca de armas ou qualquer material alusivo ao nazismo, mas nada foi encontrado. “Os dois se mostraram muito surpresos com a polícia batendo na porta. Mas isso mostra que o que é dito na internet, grupos ou redes sociais, também têm consequências”, disse Cardoso.

Com a investigação em curso, ambos foram chamados para prestar depoimentos. O delegado constatou que o grupo não era sobre nazismo e que as mensagens ditas foram pontuais para zoar com um desafeto que estava na conversa. “Havia um integrante que é politicamente de esquerda, enquanto estes que fizeram piadas com nazismo são de direita. Segundo eles, queriam apenas incomodar este de esquerda. Mas mesmo sendo piada, o crime de racismo foi cometido, e isso não pode acontecer”, completa.

O integrante do grupo, de esquerda, que era “zoado” pelos integrantes de direita, entrou na conversa dizendo que o que estava sendo dito era crime e mandou artigos sobre o crime e a pena. “É a primeira coisa que aparece no Google quando é pesquisado ‘nazismo crime’. Gostaria de saber se tua ia achar ‘brincadeiras’ sobre nazismo engraçadas caso tua família tivesse sido assassinada em campos de concentração”, escreveu.

Foi a este argumento, que um dos envolvidos respondeu com o áudio dizendo que ele poderia ter sangue próximo à família de Hitler, pois seu tio-avô comandava um dos campos nazistas. Segundo o delegado, este rapaz possui família com forte descendência alemã. Mas vale lembrar que Hitler nasceu na Áustria.

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