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O colecionador de Dois Irmãos que resguarda parte da história para as futuras gerações

03/11/2020 - 15h25min

Márcio coleciona, principalmente, garrafas de refrigerante. Também possui diversas antiguidades no seu "Recanto Brahmeiro" (FOTO: Cleiton Zimer)

Por Cleiton Zimer

Dois Irmãos – O que começou com uma brincadeira tomou proporções inimagináveis e, hoje, Márcio André Posselt é um dos maiores colecionadores de garrafas de refrigerante do país e o maior o Rio Grande do Sul, com cerca de 1.200 exemplares diferentes que fazem um verdadeiro resgate histórico. Além disso, também coleciona outros itens e, no galpão da família, possuí cerca de 2.500 peças que são guardadas com muito carinho, levando os visitantes a experimentar uma espécie de volta no tempo ao se depararem com itens que já não se encontram mais no mercado ou, como ele mesmo diz “uma verdadeira nostalgia”.

Márcio e a família são naturais de Augusto Pestana, uma cidade do noroeste do Estado e que pertence a microrregião de Ijuí, distante há cerca 440 quilômetros de Dois Irmãos. Eles vieram morar para cá em 1986 no bairro Navegantes e, hoje, residem no Travessão onde, em 2010, Márcio teve a ideia de construir um galpão. A edificação do espaço já traz um resgate histórico pois, para construí-lo, foram usadas madeiras rústicas de outros dois galpões do antigo proprietário daquelas terras.

Recanto Brahmeiro

Recanto Brahmeiro foi construído em 2010 e hoje abriga mais de 2.500 peças (FOTO: Cleiton Zimer)

“Desde a adolescência eu gosto de coisas antigas, itens da roça. Depois, quando foi feito esse espaço aqui comecei a colecionar garrafas de refrigerante”, conta, explicando que conseguiu as primeiras com um vizinho que tinha um campinho de futebol de onde conseguiu os itens da linha Brahma e, a partir disso, bolou o nome do lugar: Recanto Brahmeiro, que hoje é um espaço para as festas da família.

Passados 10 anos o local conta com um vasto acervo e, além dos refrigerantes de diversas marcas tem também latas de azeite, tinta, leite, abridores, vidros de Nescafé, placas de carros amarelas e muito mais. Outros itens também compõem o Recanto, porém, não são exatamente colecionáveis e sim, peças antigas que Márcio guarda com muito carinho, como uma cama, berço, bicicleta e até mesmo um antigo luminoso da Sociedade Santa Cecília. São tantos itens que já não tem mais lugar no chão e nas paredes; a saída que encontrou foi fixar no teto que, também, já está cheio, preenchendo o lugar de 100 m² levando-o a planejar uma futura ampliação. “Isso é uma cachaça: vicia. Mas é preciso manter o foco; cédulas e moedas, por exemplo, não coleciono. Comecei com as garrafas e fui ampliando o leque, mas, na verdade, não achei que chegaria nessa proporção”.

Andando pelo local cada item remete a uma história, uma lembrança. O entusiasmo de Márcio é notório e, acima de tudo, afirma que “o mais importante não é a coleção, mas, sim, as amizades que isso proporciona. Não tem preço. Já fiz muitos amigos e, com certeza, a lista só vai aumentar”. Cada item é devidamente catalogado, sendo feito o registro de quem, quando e onde fez a doação.

Além das garrafas de refrigerantes, coleciona também outras como vidros de Nescafé (FOTO: Cleiton Zimer)

Desde a primeira até a última

Tudo chama a atenção. Márcio conta que cada pessoa tem uma reação diferente ao entrar no Recanto Brahmeiro mas a maioria se surpreende ao ver itens que há tanto tempo já não viam mais. Dentre tudo o que mais chama a atenção são as garrafas da Pepsi, da qual possui desde a primeira que foi lançada em 1953 até a garrafa atual. A Pepsi surgiu aqui no Rio Grande do Sul através do advogado Heitor Pires que desistiu da carreira e fundou a Refrigerantes Sul Riograndense e, só depois, expandiu para os demais estados do Brasil.

Ele também guarda uma placa de propaganda da Pepsi, uma das primeiras. “Pensa na alegria de resgatar aquela placa. Estava largada ao relento, do lado de fora de um antigo bar abandonado em Sapiranga; é uma sobrevivente de um tempo que não volta mais”, destacou.

Devido a sua ampla coleção de 1.200 garrafas, sendo cada qual diferente, Márcio é uma referência para os gincaneiros. “Durante o ano em várias cidades do Estado ocorrem gincanas e, por eu ter um acervo diversificado eles fecham com exclusividade comigo para que eu os entenda nas tarefas de objetos”.

O Fusca 67

Fusca é uma das relíquias que ele guarda no galpão (FOTO: Cleiton Zimer)

Márcio tem 41 anos. É filho e neto de agricultores. Diz que por isso adquiriu o gosto por coisas antigas. Hoje ele trabalha como modelista em uma fábrica de calçados e, colecionar, é apenas um “hobby” mas é o que dá uma cor especial à vida. Ele também possui um Fusca 67. “É o meu ‘xodó’, comprei ele em 2008 e temos muitas histórias juntos. Grande parte das garrafas do acervo foram transportadas pelo Fusca; já fui com ele para o Uruguai. Em 2013 fiz a viagem mais longa até Porto Lucena, com 615 quilômetros só de ida”.

Resgatando e preservando história

Márcio destaca que vive e respira antiguidades. “Na era do plástico encontrar uma lata de azeite, óleo ou uma garrafa de refrigerante de vidro é resgatar e preservar um pouco da história para gerações futuras, fazendo elas voltarem para o passado. Isso é gratificante, é pura nostalgia estar num ambiente assim”.

Sua esposa Taína Veiga, 35 anos, diz que gosta da coleção do marido com o qual está casado há três anos. “Acho que foi uma coisa que aproximou a gente. Já conhecia ele e, quando vim para o galpão me surpreendi. Hoje, mesmo conhecendo o local, quando olho sempre vejo coisas novas”, disse.

O espaço não é aberto à visitação. Porém, Márcio destaca que se alguém tiver interesse e se identificar com a coleção pode contatá-lo pelo 051 99955-3986 e agendar uma visita e, até mesmo, doar itens que possam agregar ao acervo.

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