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O “mágico” do Teewald que conquista pela simpatia
Por Cleiton Zimer
Santa Maria do Herval – O agricultor aposentado Lauro Ignácio Klauck, 77 anos, segue sua vida no alto de um vale no final da rua Jacob Kaefer, no bairro Amizade. Das janelas da casa secular da família, construída com a técnica enxaimel, ele consegue observar parte do Município de cima.
Longe do movimento, lá o tempo passa vagarosamente. Ao receber uma visita, Lauro logo pega sua caixinha de sapatos onde guarda mais de três décadas de “magia”. Sim, ele é o mágico de Santa Maria do Herval, ou Mandrake – antigo personagem dos quadrinhos -, como alguns costumam chamá-lo.
Primeiro ele equilibra 12 pregos sobre apenas um; logo em seguida pega dois palitos de dente e, numa garrafa antiga, dependura dois garfos que enfrentam a gravidade, sem cair.
Ele segue, cortando um pedaço de folha, onde jura que passa uma pessoa com até 200 quilos, e dá certo: com precisão ele corta a folha de forma que todas as pontas fiquem ligadas, gerando um grande círculo onde alguém passa tranquilamente.
Esfregando contra os seus braços ele faz sumir uma tampinha de garrafa e, embaralhando as cartas deixa um verdadeiro nó na cabeça de quem o observa.
Para alegrar
Quando Lauro anuncia a “mágica” que fará a proposta logo parece impossível de se concretizar, mas ele mostra que através da precisão e muita técnica é, na verdade, simples de fazer, contanto que se tenha paciência. “A mágica de verdade não existe. É apenas uma ilusão, uma distração para alegrar as pessoas, fazer elas sorrir”, conta.
Ele não está preocupado em reter a exclusividade do que sabe. Depois de fazer o truque o aposentado se dispõe a explicar como faz e, ao contrário do que se pode pensar, revelar o segredo torna a mágica ainda mais interessante, pois a partir do momento em que a complexidade se desmistifica, mostra que o complicado está em nós, quando nos limitamos a ver apenas o óbvio.
Tentando até dar certo
Questionado como aprendeu todos os seus truques, Lauro conta que muitos deles viu em programas da televisão e foi replicando até conseguir. O aperfeiçoamento veio através das tentativas, sendo a maioria em apresentações nos bares da região. “Não cobro nada. Às vezes me pagam uma cachacinha, mas só isso. Não é certo cobrar pois não é nada de verdade”, diz.
O aposentado gosta de receber visitas, de relembrar das aventuras e risadas que arrancou em tantas pessoas nestas três décadas que pratica as mágicas, uma atividade um tanto diferente em Santa Maria do Herval. “Eu gostaria mesmo de ver as crianças e jovens continuando estas brincadeiras, mas é uma pena que hoje só pensem nos celulares”, lamenta.
Apaixonado pelo lugar onde vive
O aposentado nasceu e cresceu naquela casa junto com outros três irmãos, o pai e a mãe; ele é o único que permanece vivo. Sua esposa faleceu há 33 anos e tiveram quatro filhos que lhes deram seis netos.
Mora sozinho e nunca pensou em sair dali. “Vou ficar aqui enquanto viver”. Até organizou um lugar especial nos fundos de casa, com uma mesa feita do tronco de uma árvore onde recebe a família e amigos. Conta que até tem uma namorada em Dois Irmãos, mas não se imagina vivendo em um terreno. “Preciso ter meu lugarzinho para trabalhar”.
Durante toda a sua vida trabalhou como agricultor, plantando de tudo desde feijão, arroz, milho e batatas. Com a idade avançando diminuiu o ritmo mas não parou e, hoje, cultiva suas goiabeiras nos fundos da casa, cujas frutas vende para varejistas de Herval e Dois Irmãos. Conta que na época de maio a agosto colhe dentre 400 e 500 kg.
Além disso, mantém sua horta com várias hortaliças para seu consumo próprio, além de açude e um campinho de futebol.