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O que diz o prefeito responsável por um dos primeiros lockdowns do Estado
Estado – Encerra às 6 horas desta segunda-feira, 27, a primeira experiência oficial de lockdown, a medida mais extrema no distanciamento social e combate à pandemia, realizada no Rio Grande do Sul. Na distante Fronteira Oeste, o município de Alegrete viveu neste final de semana um isolamento praticamente total, com fechamento da maioria das atividades comerciais e de serviços, suspensão do transporte coletivo e recomendação, por parte da Prefeitura, de que os moradores não saíssem de casa.
A decisão foi tomada através de decreto pelo prefeito Márcio Amaral (MDB), depois de uma crescente nos números de casos confirmados, mortes e internações em leitos UTI no hospital local, além de um desrespeito às regras básicas relacionadas ao isolamento social, conforme análise da Administração.
Até o momento em que a medida entrou em vigor, o município de cerca de 75 mil habitantes, contabilizava 178 moradores positivados, nove óbitos e outros nove hospitalizados. Na Encosta da Serra, por exemplo, a Prefeitura de Estância Velha, que tem 2/3 da população de Alegrete, contabilizou quase o dobro de casos, com 332 testes positivados, sendo 12 mortes e 9 internados.
Comércio fechado
Além de um toque de recolher recomendado à população entre a noite de sexta e a madrugada de hoje, a principal mudança foi na obrigatoriedade do fechamento de grande parte do comércio, sendo até alguns elencados como essenciais, como supermercados. Apenas farmácias, postos de combustíveis, distribuidoras de gás e serviços relacionados à área da saúde puderam funcionar no período. A reportagem do Diário conversou com o prefeito de Alegrete sobre como foi este final de semana de lockdown no município.
Entrevista – Márcio Amaral: “Só se ouvia o canto dos passarinhos”
Diário – O que motivou a Prefeitura de decretar o lockdown?
Márcio Amaral – Alegrete é um município grande, com baixa densidade populacional e longe dos grandes centros. Logicamente, o coronavírus demorou para chegar até aqui. Quando chegou, veio devagar, com poucos casos e a situação sob controle. Entretanto, nesta semana tivemos 53 casos e dois óbitos. Nós já tínhamos conversado com os médicos, tentando fazer alguma coisa diferente, porque notamos que o pessoal não estava colaborando ou entendendo a gravidade do caso. Na quinta-feira à tarde, os leitos de UTI estavam com 100% de ocupação. Então resolvemos parar tudo neste final de semana. O problema é que o pessoal está levando na brincadeira e, de repente, pode alguém vir a óbito por falta de leito.
Diário – Como foi a recepção da comunidade com relação à medida?
Márcio Amaral – A maioria está consciente e procurando cumprir com os decretos. Na quinta, nós fizemos o anúncio e a maioria comentava que só dois dias não resolveria. Mas claro que o setor do comércio não gostou. Independentemente disso, nós trancamos o pé. Fizemos uma reunião com a Agas e explicamos qual era o objetivo. E para a nossa satisfação, registramos poucas pessoas nas ruas, com a cidade amanhecendo que nem um deserto. Só se ouvia o canto dos passarinhos.
Diário – E como reagiu o setor comercial, o principal afetado pela medida?
Márcio Amaral – Nós já tínhamos previsto um lockdown apenas no domingo, porque o impacto econômico é menor, e antecipamos também para o sábado. A ideia era justamente usar a medida como um objetivo pedagógico, para evitar que amanhã ou depois a gente entre para uma bandeira vermelha ou preta e precise ficar uma semana ou 10 dias com o comércio fechado. É justamente o que não se quer. A gente sabe o quanto é ruim fechar o comércio, mas precisava dar uma parada para alguns se antenarem da dificuldade que enfrentaremos. Nós vamos ter que mudar o comportamento social, se não vai dar zebra.
Diário – Há possibilidade que o lockdown seja estendido por mais dias?
Márcio Amaral – Tudo vai depender dos nossos próximos índices de ocupação dos leitos. Se a coisa se mantiver como vinha, com uma taxa de 50 a 60%, está dentro do normal. Agora, se começar a bater no 100%, aí nós vamos ter que dar uma trancada a mais, e quem sabe até em dia de semana, que é o que a gente está realmente tentando evitar.
Diário – A necessidade de aplicar o lockdown é apenas local? Você vê esta medida sendo ampliada a nível estadual?
Márcio Amaral – Aqui na Fronteira Oeste, onde os municípios são distantes uns 50 quilômetros um do outro, nós precisamos ter um pouco mais de autonomia, para poder tomar as medidas de acordo com a realidade local. Uruguaiana, por exemplo, poucos dias atrás, estava com os leitos de UTI vazios. Já em São Gabriel, os números estavam preocupantes, o que acabou afetando toda a região. E da maneira como está, o próprio Governo já se deu conta de que não adianta colocar o Estado em bandeira vermelha, porque isso não segura a evolução da pandemia. Nós precisamos que a economia funcione igual, mas devemos estar atentos e achando alternativas para que as coisas não parem totalmente e não comprometam a vida das pessoas.