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Terceira Idade: casal de Dois Irmãos mantêm aberto primeiro bar e armazém do Floresta
“É minha ocupação e enquanto eu puder, vou levar”
Por Carla Fogaça
Dois Irmãos- Geraldo Boufler, 73 anos, e Glaci Boufler, 71 anos, cuidam do Bar e Armazém há quase 40 anos, no bairro Floresta. O ‘Bar do Geraldo”, como é conhecido, foi o primeiro estabelecimento no ramo a abrir no Bairro e, segundo o casal, o único que permaneceu funcionando até hoje.
O casal é natural de São José do Herval, onde passaram a infância, adolescência e parte da vida adulta. “Éramos vizinhos a gente se conhece desde pequenos eu brincava com o irmão dele, mas ele nem olhava muito, fugia de mim”, relembra Glaci. Quando viviam em Morro Reuter, seu Geraldo trabalhava na roça e Glaci em fábrica de calçados em uma cidade próxima.
Em 1983 se casaram e vieram para Dois Irmãos. “Já tínhamos o terreno e a casa aqui e eu estava cansado do serviço na roça, minha coluna já estava bem ruim, sem contar que eu sempre quis ter um bar. A Glaci também trabalhava em outra cidade e Dois Irmãos era mais perto”, conta Geraldo.
Trabalho suado e um sonho realizado
Desde criança Geraldo ajudava os pais na agricultura. Lembra de ter 13 anos de idade e carregar nas costas sacolas de batatas. “Era chuva ou sol, frio ou calor, lá estava a gente trabalhando. Caminhávamos 2 quilômetros com peso nas costas. Se eu continuasse não chegaria aos 50 anos de vida”, destaca.
O desejo de abrir um bar sempre esteve presente no coração de Geraldo e, com a mudança, para Dois Irmãos viu a oportunidade de empreender e realizar o sonho. “Casamos em fevereiro e em setembro do mesmo ano abri o bar”, conta.
Era deserto e não tinha muitas casas
O casal recorda que em 1983 nem todas as ruas do Floresta eram abertas e onde eles moram tinha poucas casas. “Hoje o Bairro cresceu muito. Tanto que logo que o bar abriu era pouca gente que vinha, aí depois veio uma fábrica aqui para perto e começou a dar movimento. Fazíamos lanches para quem trabalhava lá”, diz Geraldo.
Ainda conforme Geraldo, na época, tinha um bar no Centro, mas no Floresta não. “Depois de nós teve mais uns bares, mas já fecharam. Hoje somos os únicos aqui no Bairro de novo e isso é minha ocupação, enquanto eu puder, vou levar. Sou muito feliz e realizado com o bar”, destaca.
Geraldo tomava conta do bar e do filho
Um ano após o casamento nasceu o filho único do casal, o Martino, e como dona Glaci ainda trabalhava na fábrica quem tomava conta do menino era Geraldo. “Ele ficava no bar junto, ficava na encerra atrás do balcão”, conta Glaci.
Quando o filho estava com dois anos a encerra não segurava mais ele. “Precisei parar de trabalhar e aí comecei a cuidar de crianças em casa. Foram cinco anos assim e depois parei e me dediquei a ajudar no bar”.
Atualmente, Geraldo e Glaci tomam conta do bar e se revezam entre os atendimentos e lidas da casa. “Antes da Covid aqui era o lugar dos idosos, vinham para cá jogar carta, mas agora ainda vem bem menos gente. Mas sempre tem os clientes fiéis, que frequentam há muitos anos”, diz Glaci.
Paz e histórias engraçadas
Em 39 anos de atuação no bar e moradores do Floresta, o casal nunca teve desavenças. Segundo eles, os fregueses do local são gente boa e nunca teve brigas. “Às vezes sai uma discussão, mas nunca teve briga, o pessoal é da paz”, salienta.
Inclusive o casal relembra que tem muito mais histórias engraçadas do que ruins. “Já aconteceu tanta coisa aqui, muitos já dormiram aqui e não acordavam por nada. Aí um que outro levava para casa, mas já teve casos de chamarmos a ambulância para carregar”, recorda com risos Glaci.
Plantação como lazer
Seu Geraldo nunca largou a agricultura de vez. Para manter a tradição de família ele continua cultivando aipim, feijão, batata-doce, milho e repolho, mas tudo para consumo próprio. “É mais um passatempo, gosto de plantar flores também”.