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Um ano de transformações: a vida da Família Ramos de Ivoti ainda comove comunidade

06/08/2020 - 10h02min

Atualizada em 06/08/2020 - 10h04min

O pai e seus filhos: história da Família Ramos ainda repercute, um ano depois (Créd. Alex Günther)

Ivoti – Em um ano muitas coisas podem mudar. A evolução faz parte do cotidiano das pessoas, assim como o retrocesso. Em 365 dias, Gabriel Ramos soube aproveitar a parte positiva e teve a vida revolucionada. O rapaz de 29 anos comoveu a região quando foi o personagem central de uma reportagem, em alusão ao Dia dos Pais em 2019.

Morador do bairro São José, ele divide a pequena casa de dois cômodos com seus quatro filhos, todos apenas crianças. A mãe perdera a vida um ano antes para a tuberculose.

Coube a Gabriel – sozinho – prover o sustento, alimento, cultura e educação para Vítor (9), os gêmeos Guilherme e Antoni (7) e ao caçula Gustavo (5). Até aqui, a missão do rapaz tem sido bem-sucedida, e após a reportagem, ganhou um reforço considerável pela repercussão. “Minha vida mudou completamente. Dos meninos também. Sou muito grato a tudo que me aconteceu. A comunidade nos abraçou”, comenta Gabriel, sem esconder um sentimento genuíno de emoção.

Orgulho em aprender

Uma das mudanças mais marcantes para o pai foi ter voltado a estudar. Mesmo que por um curto período, realizou um curso de polimento e cristalização de veículos, proporcionado gratuitamente por uma escola técnica de Campo Bom. Gabriel recebeu carona, material didático e aulas práticas. Ao final, um certificado atestando o conhecimento adquirido.

O documento está emoldurado e decorando a sala. Gabriel pega o quadro com orgulho e fala: “Consegui inclusive trabalhar em três carros. Fiz limpeza de vidro, caixa e farol. Até construí um pequeno galpão ao lado de casa para receber clientes”.

No passado, externou o sonho de ser engenheiro. Chegou a ser procurado por outra escola de Novo Hamburgo, desta vez para se graduar como mecânico. “Em razão da falta de estudos, não pude me habilitar”, lamentou.

Gabriel mostra com orgulho certificado que recebeu de curso automotivo

Empreender é preciso

A veia empreendedora de Gabriel é notável. Além de se articular, mesmo que timidamente, para trabalhar com veículos, fez uma pequena reserva de dinheiro para investir em uma oficina de conserto de máquinas de lavar. O ofício aprendera com o pai na adolescência. Chegou a pagar dois meses adiantados de aluguel, porém a pandemia freou os dois projetos. O baque levaria qualquer investidor à desesperança.

Mas ir na contramão da obviedade parece ser a tônica da vida de Gabriel. “Recuperei parte do investimento e comprei mato de acácia. Fiz o corte e vendi como lenha, em frente à minha casa. Obtive um lucro bom e reinvesti. O retorno está sendo bom”.

Quando cumprimentado pela visão de negócios, o pai dos quatro garotos surpreende: “Agora estou entrando no ramo de limpeza de telhados. Adquiri recentemente um lava-jato, cinto de segurança e cordas. Já tenho meu primeiro cliente”.

E os garotos? Vão bem, obrigado!

Assim como a rotina da humanidade foi afetada pelo coronavírus, a Família Ramos também teve de se adaptar. As crianças, que antes frequentavam normalmente as escolas municipais, projetos de esporte e o Plug, agora passam o dia em casa. Mas nada de relaxamento! Gabriel insiste para que todos façam suas lições de casa.

“Antes era mais fácil porque a lição vinha impressa. Agora, vem através de e-mail e WhatsApp. Não entendo muito bem, mas me esforço para que eles não parem”, sinaliza, com semblante otimista.

Com pandemia, pequenos estão em casa. O pai insiste que eles estudem

O desenvolvimento dos filhos é um forte fator motivacional. O caso mais emblemático é o do caçula Gustavo. Carinhosamente chamado de “Chaveirinho”, o menino que um ano antes apenas respondia com acenos de cabeça e sorrisos, agora articula frases. Fruto de um apoio profissional indispensável, possibilitado pela Prefeitura.

“Ele estava tendo encontros com fono e psicólogo. O carro da Prefeitura passava na escola e pegava ele. Além de ter ‘espichado’, desenvolveu muito”, comenta Gabriel, sob o olhar atento do caçula.

A família ainda recebe muita ajuda da comunidade através de doações, indicações de serviço e ofertas de capacitação profissional e estudantil. Comida, roupas e brinquedos são os principais donativos. Alguns itens, inclusive, Gabriel doou para outras famílias necessitadas.

A realidade, pós exposição na mídia, é outra. “O que me sobra, repasso. Vai ser útil para alguém. Ano passado eu trabalhava e mal conseguia o básico no mercado. Hoje, graças ao apoio de todos, consigo mais serviços, que por sua vez, me possibilitam prover a comida da criançada”, finaliza o inabalável Gabriel.

Confira matéria em vídeo realizada em 2019:

 

 

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