No centro do caos: veja histórias de gaúchos que estão na China e temem o Coronavírus
O Diário teve acesso a grupos de brasileiros na China e que vivem a situação do coronavírus. Até o momento, apenas o país, que é o mais populoso do mundo, registrou mortes por conta das infecções. Naturais da região e do Rio Grande do Sul relatam que procuram manter uma rotina em suas casas, após o governo estender o feriado do Ano Novo até meados de fevereiro.
Denis Becker, natural de Novo Hamburgo, mora há 13 anos em Dongguan, distante cerca de mil quilômetros de Wuhan, onde o surto começou. Lá, ele trabalha com negociações de pedidos em companhias exportadoras de calçados. Por causa do vírus, sua ex-esposa, que é chinesa, precisou levar a filha de três anos embora para o Sri Lanka. A viagem foi ontem.
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“De uma semana para cá, nossa vida mudou. Todo mundo procura ficar dentro de casa, e agora é obrigatório sair de casa com a máscara. Você compra o básico e retorna. Deixa as coisas na entrada por 30 minutos, que é o tempo para que o vírus morra em ambientes externos, lava as mãos e aí pode ter uma vida despreocupada dentro de casa”, conta ele.
Segundo Denis, as pessoas, em geral, “estão um pouco preocupadas”, especialmente em relação ao transporte público, como trens, ônibus e aviões. As máscaras estão em falta no mercado, e a temperatura corporal é medida em funcionários de comércios. Muitos locais também são esterilizados com mais frequência, como mesas de restaurantes.
Gaúcho no principal foco do surto fala da rotina
O piloto de aeronaves Mauro Hart é natural de Venâncio Aires, e mora há cinco anos em Wuhan, cidade de início do surto no final de 2019. Ele pousou no local pela última vez no dia 23, quando o aeroporto foi fechado e a cidade entrou em quarentena, ficando isolada. Em Wuhan, dois novos hospitais estão sendo construídos em tempo recorde para atender especialmente pacientes do novo coronavírus.
“Minha situação aqui está sob controle, e estou saudável. Tenho suprimentos para cerca de dois meses. O governo tomou atitudes aparentemente muito severas, mas acredito que sejam bem necessárias”, comenta Hart. De acordo com ele, sua rotina está normal, inclusive conversando com amigos, a família e o restante da comunidade brasileira em Wuhan, composta por volta de cem pessoas.
Ele revela ainda que tem um livro publicado e está escrevendo uma segunda obra, agora sobre o atual episódio. Hart contou ainda que esta é a segunda situação epidêmica do tipo que enfrenta: na época da Sars, que preocupou o mundo entre 2002 e 2003 e também surgiu na China, ele trabalhava em Taiwan, ilha próxima que está sob jurisdição chinesa.
“Para mim, a atual situação está sendo mais difícil, pois estou aqui no epicentro, em Wuhan”, comentou. Diz ainda que o contato com a embaixada do Brasil “é pouco”, pois não há representação diplomática na cidade, mas que o consulado está “observando”. “Estamos sendo muito bem tratados pelos populares e pelo governo”, afirma Hart.