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Confira a difícil rotina de quem dedica a madrugada à entrega de jornais

30/04/2019 - 13h59min

Atualizada em 30/04/2019 - 14h21min

Região– Como nesta quarta-feira 1º de Maio, é o Dia do Trabalhador, nada mais justo do que homenagear pessoas que há mais de 20 anos dedicam suas madrugadas para sustentar suas famílias através de um serviço ininterrupto, com ou sem chuva.

O entregador de jornal é um desses profissionais. Enquanto a maioria das pessoas está desfrutando de um bom sono dentro das suas casas, ele enfrenta o tempo, passa perigos de acidentes, derrapagens, frio e outras dificuldades.
Todos entregadores superam momentos difíceis para levar o jornal aos assinantes. Para homenagear o trabalhador, o Diário vai mostrar duas histórias de superação e amor pelo que se faz.

Um trabalhador de multifunções: da entrega de jornal à cobrança

Os colegas chamam ele de Biquíni. O nome de nascimento é Jair Heylmann, e a idade, 46. São cerca de 22 anos dedicados à entrega de jornais, venda e cobrança de assinaturas e venda de anúncios, além de fazer reportagens no município de Picada Café. Primeiro foi no jornal semanal, e há mais de 15 anos faz entregas de segunda a sexta.

Os pais de Jair já eram moradores de Picada Café e mudaram-se para Toledo, no Paraná, onde nasceram os filhos. Depois de um tempo, a família voltou para cá e, até os 12 anos auxiliou no serviço da roça. “Como naquela época podia trabalhar com essa idade, fui trabalhar numa fábrica de calçados”, explica.

A sua chegada no Diário foi algo meio estranho, segundo define o próprio Biquíni. Ele trabalhou apenas um dia em outro jornal, mas depois foi procurado por um funcionário do Diário para integrar o quadro funcional. As primeiras entregas foram de carro e com o tempo passou a entregar o jornal de moto.

O início de uma rotina exaustiva

A rotina de entregador de jornais inicia às três horas da madrugada, e a entrega dos 285 jornais que cabem a ele normalmente ocorre até as 6h20.

Contudo, o profissional depende da previsão do tempo. Em caso de chuva, a entrega demora mais tempo, pois o jornal tem que ser primeiro ensacado.

Como nem todos os assinantes possuem um cano ou caixa de correspondência, Biquíni trabalha a questão de conscientizar o pessoal a ter um local para colocar jornal. “Vale não só para o jornal, mas também para cartas”, explica o funcionário.

Descanso

Como abre o escritório do Diário em Picada Café às 8 horas, Biquíni trabalha logo pela manhã, tira um descanso ao meio-dia e vai dormir mesmo somente às 21 horas.

Quais os perigos que já passou?

Derrapar no asfalto molhado, na grama, na areia, ou mesmo atropelar animais durante o serviço são questões que fazem parte da rotina. Com o Biquíni não é diferente. “Já derrapei uma vez, quando estavam fazendo o asfalto no interior, no bairro Kafeeck. Quando abriram a estrada e choveu, então ali ficou um lamaçal. Nesse dia, a moto caiu e eu rasguei o dedo do pé direito”, explica o entregador.

Já houve caso de ter assaltantes na região. “Nesse caso, os entregadores ficam em alerta. Tem polícia na rua, vai que acham que é alguém que foi resgatar bandido, então tem que cuidar”, explica.

No caminho

Por estar na estrada, o entregador já atropelou gambá, tatu e cachorro-do-mato. “Quando eu ia passando na BR-116, por exemplo, um cachorro-do-mato fêmea atravessou na minha frente, não tive como evitar, mas não caí. Infelizmente, não tinha o que fazer, sobre a morte do animalzinho”, lamentou.

E a família como fica quanto a esse trabalho?

Casado com Nelci Alves, com quem tem a filha Eduarda, de 10 anos, Biquini diz que a família encara bem o seu trabalho, que é levado com bastante seriedade e responsabilidade.

“É tranquilo. E quando dá temporal, a minha mãe mora na casa do lado, é só ir ali. É uma coisa de sustentar a família. Tem os seus benefícios, a filha quer um celular, um tênis novo, roupa, então é preciso o trabalho do pai e da mãe”, comenta ele.

Salsicha, um entregador de jornal que foi pai e mãe ao mesmo tempo

Ele chama-se Claudio Ruppenthal, tem 54 anos, e mais do que um profissional da entrega de jornais, ele foi um pai responsável, que cuidou de duas filhas por três anos. Seu apelido: Salsicha.

Claudio veio para Dois Irmãos de um município chamado Iporã do Oeste, Santa Catarina. Chegou à região para morar com os tios (já falecidos), Nelci e Alcides Gottschalk, em busca de emprego.

Ele trabalhou vários anos como padeiro e exercia a função de entregador de jornais para ganhar um dinheiro extra. O apelido veio por parte de colegas, já que Claudio gostava muito de salsichão, e era a época do auge do personagem dos desenhos animados, Salsicha e Scooby Doo.

Quando a companheira foi embora, ele ficou com uma filha legítima e uma adotiva para criar. Em função disso, teve que contratar uma senhora para ficar com as meninas. “Eu cuidei delas sozinho por três anos, e aquela senhora cuidava delas à noite”, destaca Salsicha.

O relacionamento com a atual esposa é de 20 anos, sendo 10 de casamento com Irene de Lima Ruppenthal. Os filhos de Irene hoje são adultos, sendo Leandro, 34, Andréia, 30, e Adriana, 28. Já as de Claudio são Cátia, 28, e Deise, 30.
Os filhos eram pequenos quando eles ficaram juntos. A família sempre aceitou o seu trabalho nas entregas. “É para o sustento familiar”, garante o entregador.

“Tenho orgulho do que faço, pois é uma oportunidade que ganhei”

Apesar das dificuldades que enfrentou por trabalhar à noite, pois ficava na padaria das 18h30 até as três da madrugada, em seguida iniciava a sua jornada na entrega de jornais. O descanso é na parte da manhã.

Ele atua há 20 anos no setor de entregas e entrega 740 jornais nos bairros Portal da Serra, Bela Vista, Primavera, Vale Verde, Beira Rio e São João, além de parte do Centro. Ele diz que ninguém é perfeito, não se sabe tudo, e que é importante não se supervalorizar.

Apenas dois acidentes

Em 20 anos, ele lembra de apenas dois acidentes que sofreu, quando atropelou cachorros que atravessaram na frente da moto. O restante dos acidentes foi quedas na areia e na grama, mas nada grave.

“Eu sou obrigado a andar na marcha lenta, não mais que 30 km por hora, pois só em um bairro entrego 250 jornais”, comenta Salsicha.

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