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Conheça as tradições da localidade de Picada São Paulo, em Morro Reuter

11/07/2019 - 16h59min

Morro Reuter – Ao descer a Serra Gaúcha nos deparamos com os encantos da natureza e do povo hospitaleiro, característica inerente da região. Mas ai sair de Picada Café e chegando em Morro Reuter, somos seduzidos pelas belezas da localidade de Picada São Paulo, que é a porta de entrada do município, conhecida por resguarda suas origens ao mesmo tempo que prospera, dando grandes saltos na questão econômica.

Armazém Klauck, que antigamente era usado como salão de festas. (FOTO: Cleiton Zimer)


No dia 29 de junho, conforme manda a tradição, a comunidade de Picada São Paulo comemorou suas origens e tradições com o tradicional baile de kerb na Sociedade São Paulo.A noite contou com janta típica de kerb e a animação do Musical Monte Azul. “Servimos mais ou menos 600 jantas e vendemos 56 caixas de cerveja. De acordo com a venda de ingressos, podemos contabilizar que tinha mais ou menos umas 700 pessoas”, comentou Beno Büttenbender, presidente da diretoria da sociedade, muito feliz com o resultado do baile. “Quero, também, agradecer a todos os envolvidos, patrocinadores, garçons, pessoal da cozinha e churrasqueira, e de modo especial a todos os que participaram do baile”, agradeceu.

CONFIRA AS FOTOS DO KERB:


Eduarda Alles, de Morro Reuter, recebeu medalha de bronze na OBMEP

Você conhece a história do kerb?

Em 1911 a comunidade inaugurou a Capela Católica, e logo foi instituído que a localidade teria dois padroeiros, sendo eles São Pedro e São Paulo e, também, foi definido o dia 29 de junho como a data para celebrar os padroeiros. Mais de um século se passou e a tradição e os valores que ela representa, foram repassados de geração em geração, se mantendo viva até hoje.

A partir de então, desde 1911, todo dia 29, ou então no final de semana mais próximo, famílias inteiras se reúnem em celebrações religiosas, nos bailes e nas casas para comemorar essa tradição mantida há anos pelos moradores.

Diretoria da Sociedade e Igreja

Atualmente, a diretoria conta com seis membros, entre presidente, vice, secretários e tesoureiros. Beno Büttenbender é o atual presidente, assumindo a frente da diretoria no início desse ano, mas sempre foi muito participativo na comunidade. Beno recorda que, antes da Sociedade São Paulo, os bailes e as demais festividades eram realizadas em outros salões. “ Eu ainda era um guri, mas lembro que existiam três salões antes do salão da sociedade. Entre eles o Salão Blume, Salão Klauck e Salão Kuhn, nos quais eram realizadas as festas até os anos 60. Mas hoje, apenas o salão da Sociedade sobrevive e continua recebendo os bailes de kerb”, comenta Beno.

Presidente da diretoria da Sociedade Beno, e Gilmar Bialoso, presidente da Igreja. (FOTO: Volmir Müller)

 

Sociedade São Paulo foi construída  através do esforço da comunidade

A história da Sociedade São Paulo é constituída pelo trabalho e pelo esforço da comunidade que se uniu e, com muito esforço, construiu o salão da sociedade e, também, o campo de futebol. De acordo com Beno Büttenbender, ambos foram inaugurados em 1984. “Tínhamos um time de futebol quando eramos garotos e jogávamos nos potreiros e, volta e meia, éramos proibidos de jogar pelos proprietários de terras. Então, a comunidade construiu um pavilhão, nas terras de João Link e, com isso, surgiu também a ideia de fazermos o nosso campo nos fundos do pavilhão, mas não deu certo. Foi quando adquirimos uma área de terra pertencente ao Edvino Kolling, Roque Knorst e Evaldo Hansen. Nesta área foi feito o campo do Salão São Paulo e construída a Sociedade”, lembra Beno.

O salão, que foi construído em um prédio um pouco menor no começo, foi ampliado com o passar do tempo e, hoje, conta com um grande salão para festas, bailes e outras atividades. “Antigamente esses espaços eram tudo para nós, pessoas de todas as idades se reuniam para jogar carta, futebol, conversar… mas hoje fico um pouco preocupado com a pouca participação dos jovens nas atividades propostas pela comunidade, é uma pena”, comenta, afirmando que aceitou o desafio de ser presidente da Sociedade São Paulo para, em conjunto com a comunidade, preservar a sua importância. Além disso, conta com uma ampla cancha para jogar bolão. “Nós temos um time, no qual participamos de um campeonato regional de bolão. Sempre treinamos na cancha da nossa comunidade e, também, recebemos os jogadores de outros municípios para competirmos o campeonato no nosso salão.

Frente do salão da Sociedade São Paulo. (FOTO: Cleiton Zimer)

Campo de futebol usado pelos moradores e, também, pela região. Ao fundo, a sociedade. (FOTO: Cleiton Zimer)

Cancha de bolão é um dos atrativos da Sociedade, muito usado em campeonatos regionais. (FOTO: Cleiton Zimer)

Em uma das paredes da Sociedade, ficam guardadas as recordações dos diversos campeonatos de futebol e de bolão das equipes de Picada São Paulo. (FOTO: Cleiton Zimer)

Uma localidade privilegiada

Assim como acontece nas demais localidades e municípios dos arredores, os moradores de Picada São Paulo são, em sua maioria, de descendência alemã. Ao andar pelas ruas da “Picada”, como é apelidada, dificilmente se encontra alguém que não saiba falar ou, ao menos, entender o dialeto alemão. Dessa forma, ao conversar com as pessoas é natural ouvir um “Vi Geits?” (Como vai?), ou “Ales Gutt” (Tudo bem). Assim, fica nítida a preocupação da população em preservar suas essências e, mais que isso, passar ela adiante para as futuras gerações.

Constante crescimento

Nos últimos anos, Morro Reuter cresceu muito, tanto em relação em população como, também, economicamente. Da mesma forma, a localidade de Picada São Paulo acompanhou esse crescimento, principalmente pelo fato da BR-116 atravessar toda sua dimensão, fomentando as indústrias que estão do local, como esquadrias, granjas e aviários, matadouros de aves, malharias, artesanato, agricultura, metalúrgica e venda de flores. E, em consequência disso, teve um aumento significativo na população que busca por trabalho e, ao mesmo tempo, por um lugar tranquilo e aconchegante para morar.

A localidade conta também com educação de qualidade, oferecida pela Escola Professor Francisco Weiler, que atende 94 alunos desde a educação infantil até o 9º ano.

Escola municipal atende 94 alunos. (FOTO: Cleiton Zimer)

Palavras de quem conhece bem Picada São Paulo

Belmiro Knorst, 81 anos. (FOTO: Cleiton Zimer)

Belmiro Knorst tem 81 anos, nasceu, cresceu e até hoje vive em Picada São Paulo. Ele conta que sempre participou dos bailes de kerb que, antigamente, eram realizados até por quatro dias consecutivos, dependendo do dia em que caia o dia 29 de junho, que é o dia dos padroeiros São Pedro e São Paulo. “Eu nunca vou esquecer dos kerb de Picada São Paulo. Naquele tempo os bailes eram muito importantes, tanto que vinham ônibus de diversos municípios, como de Porto Alegre, Novo Hamburgo, Caxias do Sul, para festejar com a gente”, comenta Belmiro e destaca, “Eu nasci e quero morrer aqui, pois é uma localidade linda, calma, onde todos se conhecem e se respeitam”.

 

Cláudio Klein, 64 anos (FOTO: Cleiton Zimer)

Cláudio Klein mora em Linha Quatro Cantos, que pertence a Picada Café e faz divisa com Picada São Paulo. É aposentado e, nos seus 64 anos de idade, trabalhou quase toda sua vida lidando com a roça, e de alguma forma sempre esteve muito presente na localidade de Picada São Paulo. “As vezes eu participo das comemorações do kerb na comunidade, é sempre muito bom pois comemora as tradições da região. Além disso, é um lugar muito avançado, com diversas oportunidades de emprego e com uma economia muito desenvolvida. Além disso, é um povo hospitaleiro, sempre pronto para ajudar um ao outro e isso é muito importante”, comenta Cláudio.

José Dércio Knorst, 59 anos. (FOTO: Cleiton Zimer)

Conhecido como Zico, José Dércio Knorst de 59 anos é um artista conhecido na região, trabalhando com quadros talhados em madeira, representando uma arte que vai além de um ofício, se destacando através dos traços que remetem a sensibilidade de alguém apaixonado pelo que faz. Nasceu e sempre viveu na localidade e, dessa forma, lembra muito bem dos festejos do kerb. “O Kerb ainda é festejado na localidade mas, antigamente, era bem mais intenso. Me recordo bem que, naquele tempo, todas as pessoas iam na missa e, depois, uma bandinha as levava da Igreja até o salão da comunidade. Isso era muito bonito, e sinto um pouco de falta disso”, destaca Zico.

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