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Denúncias de negligência: famílias de Bruna e Milena ainda esperam por Justiça

29/03/2022 - 09h38min

As duas mães não querem que os casos fiquem impunes (Fotos: Guilherme Sperafico)
Por Guilherme Sperafico

Estância Velha – As mortes de duas jovens estancienses que não se conheceram, com personalidades e realidades diferentes, estão ligadas por uma série de coincidências, sendo uma delas a fatal: as famílias de Bruna Marcela Bonifácio e Milena Nataly Proença da Silva acusam que os óbitos foram consequência de negligências médicas ocorridas no Hospital Getúlio Vargas.

Elas faleceram em um intervalo de um ano, vítimas de duas doenças bem distintas, que haviam acabado de descobrir. Bruna morreu aos 29 anos no dia 11 de fevereiro de 2020. Milena, em 21 de janeiro de 2021, aos 21 anos.

As duas foram atendidas pela mesma médica, que trabalhava para uma empresa terceirizada. Após o segundo caso, foi afastada e não atua mais em Estância Velha, porém as situações não foram esquecidas e as famílias clamam por Justiça.

Caso Bruna

Bruna Bonifácio morreu em fevereiro de 2020, aos 28 anos

Ela era cabeleireira e morava no bairro Floresta com os dois filhos e a mãe. Familiares denunciaram um caso de negligência no hospital, onde era tratada como alguém com problemas psiquiátricos, enquanto um tumor se espalhava dentro de seu corpo.

Documentos mostram encaminhamentos a um médico psiquiatra e revelam que ela era descrita como “chorosa”. “Eles afirmavam que ela não tinha câncer, mesmo com mais de seis meses de sangramento e sem a devida investigação. Há mais de dois anos ela consultava e relatava dores, mas não faziam os exames necessários”, relata a mãe Celeste dos Santos Lopes.

Ela chegou a ser transferida ao Hospital Regina, em Novo Hamburgo, para a realização de um exame. No local, voltou a passar mal e teve de ser internada com urgência para tratamento da doença, mas já era tarde demais. Outros órgãos foram comprometidos e acabou falecendo apenas 15 dias após ter sido diagnosticada com o tumor.

ESPERA POR JUSTIÇA

Poucos dias depois do falecimento, familiares denunciaram o caso ao Diário e registraram um boletim de ocorrência na Delegacia. Depois, ingressaram com um processo cível que segue tramitando.

“Os filhos sentem muito a falta da Bruna. As vezes o mais novo pergunta ao mais velho qual estrelinha do Céu é a mãe”, lamenta Celeste.

A dor da perda será eterna para Celeste, mas ela espera que a justiça seja feita. “Depois do que esta médica fez, não deveria mais trabalhar. Eu tenho certeza que ela não está atuando de maneira certa. Os doentes deveriam, pelo menos, ser tratados com carinho e respeito. Ali não teve nada disso”, afirma.

 

Caso Milena

Milena faleceu em janeiro de 2021, aos 21 anos

A vendedora tinha uma filha de três anos na época de sua morte e morava com o pai, no bairro Rincão dos Ilhéus. Logo após o falecimento, a família apresentou à Promotoria de Justiça uma série de documentos e relatos do caso da paciente, que também foi levado à Polícia Civil.

Milena foi transferida do Hospital Getúlio Vargas para o Hospital de Clínicas, de Porto Alegre, depois da família ter denunciado situação de negligência médica na casa de saúde estanciense, no dia 8 de dezembro de 2020.

Ela ficou internada em Estância por mais de um mês e saiu do hospital sem diagnóstico. Em apenas um dia na Capital, foi diagnosticada com Lúpus e Púrpura Trombocitopênica Trombótica, mas acabou falecendo. Familiares afirmam que a morte da jovem está relacionada à negligência no atendimento prestado no hospital Getúlio Vargas.

 

FAMÍLIA FALA EM HOMICÍDIO

Ainda sem aceitar a morte precoce da filha, Marcia Proença espera que o caso não seja esquecido. “A única coisa que eu quero é justiça. Não quero que essa médica faça isso que fez para a minha filha para mais ninguém. A minha netinha ficou sem mãe, não tem explicação para isso. Se esta médica tivesse sido mais humana, a Milena estaria aqui”, lamenta.

“Queremos condenação por homicídio culposo. Não aceitamos que seja tratado apenas como negligência”, afirma Marcia

A mãe diz esperar uma punição severa para a profissional. “Eu queria que ela tirasse e ela disse que não precisava. Essa doutora foi a diferença entre a vida e a morte da minha filha. Por isso queremos a condenação por homicídio culposo, não aceitamos que seja tratado apenas como negligência”, afirma Marcia.

Prefeitura

Os casos de Bruna e Milena ocorreram em 2020, portanto ainda sob responsabilidade da gestão anterior. A reportagem do Diário fez uma série de questionamentos à atual administração para saber o que foi feito desde então. Confira na íntegra as respostas enviadas pela Prefeitura:

Diário (D) – Foi aberta alguma sindicância interna, ou algo do tipo, para apurar? Se sim, já teve algum resultado?

Prefeitura (P) – Com relação ao caso 1 (paciente Bruna), a direção do Hospital Municipal Getúlio Vargas (HMGV) informa que não ocorreu a abertura de sindicância interna para a apuração dos fatos. Importante ressaltar, ainda, que trata-se de situação registrada no início do ano de 2020. A nova gestão do HMGV assumiu os trabalhos à frente da casa de saúde em janeiro de 2021, ou seja, quase um ano após os fatos relatados.
Já sobre o caso 2 (paciente Milena), os procedimentos internos foram adotados e sindicância realizada por determinação da atual administração. Os trabalhos foram concluídos.

D – A profissional que atendia as duas pacientes foi a mesma. Ela continua atuando no hospital?
P – A profissional não está mais atuando no Hospital Municipal Getúlio Vargas.

D – De que maneira a Prefeitura pretende qualificar o serviço prestado na unidade?

P – A atual administração tem este como objetivo claro. Existe um plano de trabalho em andamento, no qual, capacitações ocorrem de forma periódica junto aos profissionais que atuam no Hospital Municipal Getúlio Vargas. Uma das metas é avançarmos na maior humanização do serviço prestado à comunidade.

Por outro lado, reiteramos que há o planejamento de curto, médio e longo prazo. Entre um dos principais, já iniciado e com resultados efetivos, diz respeito à revisão de contratos vigentes. Para tanto, foi designado um fiscal para cada contrato do Município com as empresas prestadoras de serviço.

Em função disso, as novas licitações seguem critérios técnicos com exigência de capacidade técnica, que demonstrem a expertise das empresas em boas práticas adotadas em contratos anteriores. Inclusive, com sanções previstas nos contratos caso não ocorra o cumprimento efetivo daquilo que está estabelecido entre as partes.

Além disso, ocorreram mudanças estruturais na casa de saúde, como a inauguração de 13 novos leitos semi privativos – todos eles SUS – que também nos permitem alcançar um novo patamar de excelência no atendimento.

Outro ponto que, em breve deverá ocorrer, está relacionado à retomada de cirurgias eletivas no HMGV. Ainda faltam ajustes de ordem técnica, mas há interesse na disponibilização de cirurgias para hérnia e colecistectomia.

 

Na Justiça

Através da assessoria de comunicação, o Tribunal de Justiça (TJ RS) informou que não localizou o caso de Bruna. O advogado da família, que ingressou com um processo cível, respondeu que a médica foi citada recentemente e apresentou sua defesa. “Nós já nos manifestamos em réplica, e o próximo passo será indicar as testemunhas para que após seja marcada a primeira audiência”. Já a família de Milena ainda aguarda por um resultado das investigações que estão sendo feitas pela Delegacia de Estância Velha, para depois ingressar com um processo.

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