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Dois Irmãos questiona livro que diz não ser verdade parte da história do Kerb

21/07/2021 - 20h30min

Dois Irmãos

Mauri Marcelo Toni Dandel

 

Todo morador sabe de cor e salteada a história e os motivos da existência do Kerb de São Miguel. Esta festa e celebração religiosa remetem ao naufrágio e a promessa feita a bordo do navio Cecília (Cäcília), que trazia os colonos imigrantes alemães.
Entretanto, esta ‘história’ está sendo tratada como ‘lenda’, ou seja, não aconteceu de verdade. É o que diz no livro “A Lenda do Veleiro Cäcília, desvendando um mito” (editora Oikos), de Décio Aloisio Schauren e Friedrich F. Hüttenberger. De acordo com eles, o Cecília é uma lenda e a promessa dos colonos alemães de homenagear o santo no dia em que estivessem salvos e pisassem o solo brasileiro nunca existiu.
Como este livro interfere na história do Kerb e de Dois Irmãos, o historiador Felipe Kuhn Braun esteve no Diário para contrapor esta versão do livro. Felipe já lançou vários livros sobre a imigração alemã, inclusive sobre Dois Irmãos. Ele esteve no jornal acompanhado de Juarez Stein (vice-prefeito) e Betinho Klein, que também fazem trabalhos voltados à preservação histórica.

CONTRAPONTO
Os três concordam que a pesquisa do livro é muito rica e até traçam elogios a obra, porém, não concordam com a afirmação de que a promessa para festejar São Miguel não tenha existido, muito pelo contrário. “A tempestade, a promessa, são fatos contados na história de Dois Irmãos, algo que todos sabem, aprendem quando criança na escola, então não deixa dúvida que existiram. Pode ter coisas pontuais que, talvez, sejam um pouco diferentes, como o nome do navio, mas nada que precise ou deveria alterar o Kerb. Nem tudo é lenda”, destaca Betinho.
O historiador Braun destaca que se as comunidades religiosas se uniram para celebrar o padroeiro na mesma data, tem algo especial naquela data. Juarez corrobora, dizendo que naqueles tempos havia muita animosidade entre católicos e protestantes, portanto, se houve união para celebrar uma festa é porque havia algo de muito especial: a promessa.

Betinho, Juarez e Felipe: “não há como livros, documentos e histórias não terem passado de lenda”

Abaixo-assinado de 1883, escrito pela paróquia ao arcebispo, comprova que a promessa em alto mar existiu; neste documento, paroquianos pedem ao arcebispo de Porto Alegre para que o Kerb volte a ser celebrado sempre dia 29 e não no domingo seguinte

 

Abaixo-assinado de 1.883, arquivado pelos jesuítas, destaca a promessa em alto mar

Felipe, Juarez e Betinho destacam partes do livro do padre Inácio Spohr, em relação a troca de data do Kerb. Isso porque em 1852 a Igreja passou a celebrar os padroeiros no domingo seguinte, o que causou reclamação dos católicos da paróquia. Fruto disso, foi feito um abaixo-assinado em 1883, onde consta inclusive a promessa feita em alto mar (você pode ler no site do Diário). Confira alguns trechos da conversa, onde os entrevistados trazem fatos históricos, embasados em livros.
* “Em 1.830 se falava em ter 5.350 alemães em toda a região. Aqui deveria ter naquela ocasião, umas 400 pessoas. E de repente, na pequena Baumschneis chegam 100 pessoas. Como são famílias, muitas crianças, são cerca de 30 a 40 adultos”, Juarez.
* Segundo o vice-prefeito, é um número considerável de imigrantes que chega e todos contando a mesma história, a promessa, o naufrágio, é claro que isso impactou a todos.
* “Como tu vai distorcer uma história dessas, algo com registros históricos, afirmar que a promessa nunca foi feita?”, Juarez, citando partes do livro do padre Inácio Spohr.
* “Mencionar que a promessa não foi feita, sem ter comprovação para o fato que afirmam, é isso que estamos questionando, como querem mudar uma história que vai completar 200 anos, seria algo inacreditável”, Betinho.
* “Todos estes fatos foram escritos pelos jesuítas, transcritas pelo Padre Inácio Spohr. Estão registrados nos livros, com católicos e evangélicos festejando o Kerb no dia 29, baseados na promessa que foi feita pelos imigrantes que sofreram o naufrágio”, Felipe.
Juarez: “A maioria dos imigrantes que vieram pra cá eram protestantes, viviam em um clima de animosidade com os católicos. Mas de uma hora para outra eles se unem com um único propósito, festejar São Miguel. Veja bem, católicos e evangélicos se uniram para comemorar São Miguel. Isso é um fato único na história”.

Livro nega existência do Cecília e questiona promessa feita em alto mar

Em tempo: no dia 10 de setembro, confira a matéria completa sobre o assunto no caderno de aniversário de Dois Irmãos.

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