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Fumaça de queimadas é ameaça à saúde pública, alertam médicos

22/08/2019 - 10h49min

Há quatros dias, Maycon, de 4 anos, está internado no Hospital Infantil Cosme e Damião, em Porto Velho (RO). O motivo é uma crise de asma provocada pela fumaça das queimadas que cobre a cidade desde a semana passada.

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“No domingo, ele começou a passar mal, ficou com a respiração difícil e falta de ar. Viemos correndo para a emergência e já internaram. Agora ele está melhor, tomando antibióticos e fazendo inalação”, conta a mãe do garoto, a dona de casa Maricelia Passos Damásio, de 31 anos.

Preocupada com a saúde do filho, ela acrescenta que a médica só não deu alta ainda por conta da continuidade dos incêndios. “Como a névoa de fumaça se mantém muito forte por aqui, ela acha que vamos sair e voltar no dia seguinte.”

O pequeno Maycon não é o único atingido. As queimadas que destroem áreas verdes do Brasil há mais ou menos duas semanas, sobretudo nas regiões Norte e Centro-Oeste, têm levado muita gente para os centros médicos.

No próprio Hospital Infantil Cosme e Damião, que atende a todo o estado de Rondônia, o diretor-adjunto Daniel Pires de Carvalho diz que foram realizados 120 atendimentos de crianças com problemas respiratórios de 1 a 10 de agosto, e 380, de 11 a 20.

“Moro em Porto Velho há 20 anos, e esse, com certeza, é o pior período de incêndios. Em alguns dias, não conseguimos nem ver o sol. Isso, aliado ao tempo seco, tem causado muitos problemas de saúde na população”, complementa o médico.

Por que queimadas prejudicam a saúde?

A saúde humana é afetada pelas queimadas porque a fumaça proveniente dela contém diversos elementos tóxicos.

O mais perigoso é o material particulado, formado por uma mistura de compostos químicos. São partículas de vários tamanhos e as menores (finas ou ultrafinas), ao serem inaladas, percorrem todo o sistema respiratório e conseguem transpor a barreira epitelial (a pele que reveste os órgãos internos), atingindo os alvéolos pulmonares durante as trocas gasosas e chegando até a corrente sanguínea.

Outro composto prejudicial é monóxido de carbono (CO). Quando inalado, ele também atinge o sangue, onde se liga à hemoglobina, o que impede o transporte de oxigênio para células e tecidos do corpo.

“Isso tudo desencadeia um processo inflamatório sistêmico, com efeitos deletérios sobre o coração e o pulmão. Em alguns casos, pode até causar a morte”, explica o pneumologista Marcos Abdo Arbex, vice-coordenador da Comissão Científica de Doenças Ambientais e Ocupacionais da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Araraquara (Uniara).

Consequências da fumaça para o ser humano

A lista de problemas provocados pela inalação da fumaça de queimadas florestais é grande. Os mais leves, segundo Carvalho, são dor e ardência na garganta, tosse seca, cansaço, falta de ar, dificuldade para respirar, dor de cabeça, rouquidão e lacrimejamento e vermelhidão nos olhos.

“Eles variam de pessoa para pessoa e dependem do tempo de contato com a fumaça”, comenta. “No geral, ela afeta mais as vias respiratórias, agravando os quadros de doenças prévias, como rinite, asma, bronquite e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). Os extremos de idade, ou seja, crianças e idosos, são os que mais sofrem, por serem mais sensíveis”, comenta.

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