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Mais uma vez, comércios e serviços fechados. E agora? Veja os relatos dos empreendedores hervalenses

07/03/2021 - 15h27min

Atualizada em 07/03/2021 - 15h55min

Atividades consideradas não essenciais pelo decreto estão de portas fechadas. O atendimento remoto não é possível para a maioria (FOTO: Cleiton Zimer)

Por Cleiton Zimer

Santa Maria do Herval – Uma semana de bandeira preta já passou. Mais duas já foram oficialmente anunciadas pelo governador na tentativa de frear a disseminação da Covid-19. Passado um ano de pandemia, as mesmas medidas voltam a ser adotadas e, as atividades consideradas não essenciais pelo decreto, devem manter as portas fechadas. As restrições para todos os setores, até mesmo para os que podem funcionar, também são muitas.

Para alguns segmentos é possível se reinventar e, mesmo não tento resultados tão satisfatórios, conseguem dar a volta por cima. Entretanto, essa não é uma realidade para a maioria e os prejuízos que já vinham se acumulando ao longo de um ano estão, agora, se agravando. Em muitos casos esse pode ser o último fôlego dos empreendedores e ficar três semanas parado, sem uma perspectiva do que virá depois, pode ser fatal.

Como pagar as contas, que não param de chegar?

Daniel Schuh, proprietário do Restaurante Schuh (FOTO: Arquivo pessoal)

Como pagar as contas de luz, água, colaboradores, aluguel e muito mais? Difícil. Durante todo esse período, com certeza, nós, pequenos comerciantes, não fomos responsáveis pela propagação dessa pandemia. Se tivessem regrado durante as eleições, Natal, Ano Novo e Carnaval com certeza não seríamos nós que estaríamos pagando essa conta de novo. Não sei como vamos pagar nossas contas, vamos tirar os valores da onde? É fácil fechar comércios para quem tem o dele garantido. Quem dera se o dinheiro tivesse sido direcionado certo para o setor da saúde do coronavírus, com certeza não estaríamos nesse colapso. Em vez disso foi usado para colocar contas em dia”.

Neusa Ebling, proprietária do Salão de Beleza Neusa (FOTO: arquivo pessoal)

Muito difícil pois não tem como pagar as contas. E comprar comida com o que? Ninguém vem ver a situação das pessoas de dependem do trabalho para viver. Nós estávamos trabalhando com cuidado, mas, de repente, amararam as nossas mãos”.

Intensificando o trabalho nas redes sociais

Raquel Poliana Zimmer Schuck, proprietária da Poli Modas (FOTO: arquivo pessoal)

Como de costume já vendo muito com sacolas e entregas. A loja está de porta fechada sim, mas intensifiquei em manter meu Instagram com conteúdos para que o pessoal olhe. Afinal, com mais tempo para isso, como os pedidos que vieram já estão chegando, o negócio é bombar na rede social. Afinal tem gente trabalhando e quer novidades. Estou me virando do jeito que posso. Portas se fecham e outras se abrem. Basta ter ideias. Com certeza não é como os outros anos. Mas vida que segue”.

Serviços de motoboy para cobrir as

despesas da barbearia, que está sem atender

Franciele Becker e seu marido Igor Petry possuem uma barbearia no Centro. Eles dizem estar revoltados com a situação, relatando que alguns cumprem as regras e, outros, não. “Os que cumprem estão tendo que trabalhar em outros setores para pagar seu aluguel, luz, internet, sem nem usar o seu estabelecimento”, disse Franciele, explicando que Igor está fazendo serviços de motoboy para outras cidades para cobrir as despesas do espaço que é alugado e, se faltar, ela pagará com seu salário. Outro problema é que há previsão de aumento no aluguel e, sem poder trabalhar, a situação vai ficando insustentável.

Podem acontecer casos de contágio sim. Mas eu não acredito que sejam os comércios e os serviços os principais disseminadores do vírus”. Franciele diz que na barbearia o contato é direto com o cliente e que desde o início todos os cuidados vem sendo adotados, desde higienizar bem as mãos antes de cada atendimento, usando máscara constantemente, higienizando todos os equipamentos e atendendo só uma pessoa por vez.

Agora vamos pegar o exemplo das indústrias: 200 funcionários. Cada um pega o par de calçados para fazer seu trabalho. Não tem como lavar as mãos a cada par feito. Ficam o dia inteiro no mesmo lugar e as vezes não tem nem tempo de lavar as mãos antes de fazer seu lanche. Porém, indústrias podem funcionar com 75% dos funcionários”, disse Franciele.

Outro problema destacado por ela é que, como há várias empresas frigoríficas no município, os funcionários precisam estar com a higiene pessoal sempre impecável, com as unhas e cabelo curto, barba aparada. “Com as barbearias fechadas, vão cobrar essa regra como? Uma situação gera a outra, infelizmente”.

Teve que sair do estabelecimento

Um outro profissional do mesmo segmento no município disse, sob condição de anonimato, que teve que sair do estabelecimento que estava alugado devido a incerteza dos lucros, sem ter condições de arcar com o aluguel. “Tudo resulta na preocupação de manter algo sem receber, porque minha única renda é dali”.

Em 25 anos nunca passaram

por uma crise tão forte

Um empresário do setor moveleiro, que também pediu para não ser identificado, disse que produziram com o material que tinham em estoque mas, não podem entregar os produtos e fazer orçamentos. “Não temos como fazer orçamento online pois é tudo sob medida”, disse, lamentando que o agravante é que não está entrando serviço. Destacou que estão respeitando todos os protocolos e, em 25 anos de empresa, essa é a primeira vez que passam por uma crise tão forte assim.

É pagar boletos sem ter dinheiro para se sustentar. Estar sem serviço, sem poder girar a economia e ver que o Rio Grande do Sul vai entrando em uma crise econômica onde, até abril ou maio, aumentará o número de roubos e de pessoas morrendo de fome, além de inúmeros desempregos”, lamentou o empresário.

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