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Lori Dapper é um ícone no município pela sua essência humana e empreendedora

01/10/2021 - 16h09min

Atualizada em 22/10/2021 - 16h20min

O espírito empreendedor está presente na vida de Maria Lori Dapper desde a infância. Mesmo sem saber desta sua vocação, Lori foi uma mulher sempre à frente do seu tempo. Aos 85 anos, a proprietária da Casa Lori faz parte da história de Dois Irmãos com seu empenho e trabalho desde a abertura do terceiro comércio no município, em 1961, até o encerramento das atividades, em 2016.

Integrante de uma das 16 famílias que fundaram o município, Lori é tataraneta do casal que esteve entre os náufragos do navio Cecília, que se conseguissem terra prometeram fazer uma festa para celebrar o dia 29 de setembro, dia de São Miguel. Ela é considerada uma parte importante da história de Dois Irmãos não apenas pela sua trajetória empreendedora, mas principalmente pela sua essência humana.

Lori nasceu no dia 17 de março de 1936, no Vale Esquerdo, num lar de uma família humilde, somando um total de sete irmãos. Desde cedo ajudava os pais agricultores na venda de frutas e verduras, às margens da BR-116. Depois, aprendeu a costurar calçados, serviço que desenvolvia em casa para uma fábrica. “Eu fazia todos os processos do calçado. Nós éramos 11 trabalhando, mas meu chefe sempre dizia que comigo na produção, só precisava de cinco”, lembra.

Quando se casou com Alcídio, em 1960, Lori foi dispensada da fábrica, pois o dono não queria mulheres que pudessem engravidar lá dentro. Foi então que Lori ganhou uma máquina e começou a produzir chinelos, ficando conhecida como “Lori dos chinelos”. Eram produzidos cerca de 400 pares por mês.

Proprietária da Casa Lori faz parte da história de Dois Irmãos com seu empenho e trabalho desde a abertura do terceiro comércio no município, em 1961

 

Lori Dapper, aos 85 anos, no cômodo da casa, onde mantém um altar

 

A Casa Lori foi aberta no ano de 1961 onde atualmente está instalada a Kinei. No local eram comercializados vimes, trazidos de Gramado, e sapatos. Enquanto a esposa administrava a loja, Alcídio abriu um armazém de secos e molhados, chamado de Armazém São Miguel, próximo à Igreja Evangélica (do relógio). No local muitos casais se reuniam diariamente.

A loja sempre teve uma variedade de produtos como roupas, itens para a casa, brinquedos e joias para atender compradores de toda a região. E a Casa Lori realmente atraía pessoas de vários municípios, inclusive de Porto Alegre, pela beleza e qualidade dos produtos vendidos. Inicialmente com atendimento de domingo a domingo, as famílias chegavam para comprar roupas e era uma escadinha de filhos, saiam cheias de sacolas.

Os três primeiros comércios de Dois Irmãos foram fundados por mulheres (Casa Rausch, Armarinhos Petry e Casa Lori). Marislane Dapper, filha de dona Lori, lembra que o início foi uma época difícil para as mulheres, mas que Dois Irmãos se destacou ao longo dos anos pela atuação de muitas mulheres empreendedoras e visionárias à frente do seu tempo. “Muitas eram empreendedoras e não sabiam”.

Inicialmente Lori ia comprar mercadorias em atacados em Canela, Nova Petrópolis e Gramado. Já nos anos 80 ela começou a fazer compras indo de avião sozinha a São Paulo. A mercadoria era levada em caminhões carregados até Dois Irmãos. Essa mulher guerreira nunca teve medo, conta os filhos Marislane e Rogério. “Esse foi o diferencial. Ela tinha confiança em si mesma”. Maris lembra das novidades que a mãe trazia de São Paulo. “O trabalho não proveu apenas o sustento, mas proporcionou a vivência em todas as áreas e o conhecimento cultural”.

Tudo o que era vendido na Casa Lori era controlado por um caderno de anotações e que era comum vender fiado. “Ninguém ficava devendo”. Dona Lori conta ainda que trabalhava com a psicologia do balcão. Muitas pessoas passavam na loja não apenas para comprar, algumas vezes não compravam nada, mas para conversar e tomar um chimarrão. “Tinha pessoas que entravam chorando, mas saíam sempre sorrindo da loja”. Dona Lori mesmo dizia “se o balcão pudesse falar”, recorda a filha.

 

Concurso de vitrine no aniversário de 25 anos de Dois Irmãos

 

A Casa Lori foi a primeira na região a vender vestidos de noiva. E as noivas não saiam só com o vestido. Lori queria garantir a felicidade das noivas as presenteando com o buquê. E o buquê era feito com as orquídeas exóticas do orquidário próprio. Eram mais de 5 mil espécies. Dona Lori calculava certinho para as flores abrirem no dia do casamento e deixar o buquê ainda mais bonito.

A importância da dona Lori na história de Dois Irmãos também é marcada pelo seu lado humano e pelos seus feitos na sociedade. Muitas famílias foram e são abençoadas pela sua generosidade. Ela recorda das vezes que as mães que acabaram de ganhar seus filhos saíam do hospital e precisavam de “carona” para irem para casa.

“Eles me pediam ajuda e eu levava e ainda dava um anjinho de porcelana de presente aos recém-nascidos”. Muitas crianças também receberam seus nomes com a ajuda da dona Lori, que como forma de agradecimento, recebia sacos de frutas e verduras.

Todo ano, no dia do Natal, ela presenteava os doentes que estavam acamados no hospital com um presentinho da Casa Lori. E esse amor por ela transmitido segue ainda nos tempos atuais. Encontrar dona Lori, seja na rua ou em sua residência, é uma explosão de generosidade. Uma mulher de fé, esperança e de cabeça erguida.

 

 

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